O sofrimento psíquico parece resistir aos avanços da Medicina e da Psicologia.
Vivemos mais. Controlamos doenças antes fatais. Temos acesso a tratamentos de ponta e diagnósticos cada vez mais precisos. A medicina evoluiu a passos largos.
Mas algo inquieta: se o corpo está sendo tão bem cuidado, por que a alma parece cada vez mais doente?
Este carrossel no Instagram motivou este texto. O carrossel levanta uma pergunta forte e desconfortável. Como é possível que o sofrimento psíquico só aumente? Isso acontece mesmo com tantos avanços na saúde.
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O Brasil é o país mais ansioso do mundo
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking global de transtornos de ansiedade. Cerca de 9,3% da população brasileira — quase 19 milhões de pessoas — convivem com esse tipo de transtorno.
Além disso, 5,8% da população apresenta quadros de depressão, também segundo a OMS.
Isso significa que, mesmo com mais acesso a informação, diagnóstico e medicação, o sofrimento emocional segue crescendo. E não estamos falando de números frios.
Estamos falando de pessoas vivendo crises de pânico no trabalho. Elas perdem o sono por causa da ansiedade. Elas sentem um vazio que não sabem nomear.
O sofrimento cresce mesmo com mais acesso a tratamento
De acordo com estudo epidemiológico a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%.
Segundo a OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%. Esta condição pode ocorrer isoladamente ou estar associada a um transtorno físico.
Um aumento superior a 30% em apenas seis anos. Isso representa mais de 16 milhões de brasileiros com diagnóstico formal.
Se estamos tratando mais, por que o sofrimento persiste — e se amplia? Será que estamos olhando para os lugares certos quando buscamos as causas?
O que a sociedade tem a ver com isso?
Talvez o problema não esteja apenas nas pessoas, mas também no mundo que construímos.
Um mundo acelerado, hiperconectado, cada vez mais individualista. Onde o valor de alguém é medido por sua performance. Onde a exaustão é normalizada e a vulnerabilidade é vista como fraqueza.
Esse modo de vida não surgiu por acaso.
Ele é fruto de um modelo econômico. Este modelo transforma tudo em mercadoria. Isso inclui o nosso tempo, o nosso corpo e até nossas emoções e nossa atenção. Sim, cada segundo que você fica rastejando no Instagram vale dinheiro.
Vivemos sob um sistema que exige produtividade constante. Ele nos ensina a competir desde cedo. Este sistema valoriza o desempenho acima do bem-estar.
Estamos falando, sim, do modo de produção capitalista.
Num mundo onde o tempo vale dinheiro, sentir é um atraso. Descansar é sinal de preguiça. Sofrer, então, é visto como falha pessoal — e não como reação legítima a uma estrutura que muitas vezes adoece.
O resultado? Milhões de pessoas se culpando por não aguentarem o que, na verdade, ninguém deveria aguentar.
O sofrimento psíquico, nesse contexto, não é exceção. É regra. É o sintoma de uma lógica que nos esgota, mas que se vende como única forma possível de viver.
Quando remédio não basta
Não se trata de ser contra medicação. Em muitos casos, ela salva vidas. Mas ela não dá conta sozinha.
O risco está em reduzir toda a complexidade da dor psíquica a um desequilíbrio químico. É importante escutar o que essa dor está tentando comunicar.
Quantas vezes a tristeza profunda de uma pessoa tem a ver com solidão? Está relacionada com frustração existencial? Podem ser as relações rompidas ou histórias de abandono?
Quantas vezes a ansiedade está ligada à insegurança financeira, à sobrecarga ou ao medo de falhar?
Se o único recurso oferecido for um comprimido, o sintoma pode até silenciar por um tempo. Mas a causa continua ali, pulsando por dentro.
O sofrimento como linguagem
O sofrimento psíquico não é um erro a ser corrigido. É uma linguagem a ser escutada.
Ele é um pedido por algo que talvez tenha se perdido: sentido, conexão, liberdade, cuidado.
E se está cada vez mais presente, talvez seja porque temos ignorado essas necessidades por tempo demais.
Quando a sociedade adoece, o indivíduo sente. E o contrário também é verdade: ao cuidar da subjetividade, podemos transformar o coletivo. Não se trata de medicalizar a vida, mas de humanizá-la.
Por isso, precisamos de espaços onde seja possível parar, refletir, sentir. Precisamos de escuta atenta e presença genuína. Precisamos, enfim, de mais humanidade — dentro e fora de nós.
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