Atenção infantil: crianças distraídas ou aprendendo? Estudo mostra que a atenção das crianças é diferente.

Nos últimos anos, a ideia de que crianças precisam focar para aprender tem sido amplamente aceita. Principalmente com a visibilidade que o TDAH vem ganhando. Mas será que essa visão está correta?

Um novo estudo, publicado na revista Psychological Science, revela que a atenção infantil não funciona como a dos adultos.

Crianças aprendem mesmo quando não estão diretamente focadas naquilo que deveriam.

O estudo foi conduzido por Marlie Tandoc da Universidade da Pensilvânia. Ela mostrou que elas absorvem informações do ambiente de forma mais ampla. Isso ocorre mais do que imaginamos.

Metodologia do estudo

O estudo comparou a aprendizagem de crianças de 7 a 9 anos com a de adultos em duas situações distintas.

No Experimento 1, os participantes foram instruídos a prestar atenção em desenhos de objetos comuns. Eles deveriam identificar quando um desenho aparecia novamente.

No Experimento 2, um novo grupo de participantes deveria focar em uma tarefa de memória com formas geométricas. Os desenhos eram apresentados como distrações irrelevantes.

Após ambas as condições, os participantes realizaram um teste surpresa para medir o quanto lembravam dos desenhos.

Os pesquisadores testaram 42 crianças e 35 adultos no primeiro experimento e 53 crianças e 60 adultos no segundo.

O objetivo era verificar se a instrução de focar em um estímulo específico influenciava a aprendizagem.

Outra questão era se as crianças absorviam informações de forma mais difusa, independentemente da instrução.

Principais achados

Os resultados desafiaram a ideia de que a atenção infantil é sempre necessária para aprender.

• Os adultos aprenderam melhor os desenhos quando receberam instruções diretas para prestar atenção neles.
• As crianças aprenderam de forma semelhante em ambas as condições.
• Isso ocorreu independentemente de serem instruídas a focar nos desenhos ou ignorá-los.

Isso sugere uma diferença entre crianças e adultos. As crianças absorvem um espectro mais amplo de informações ao seu redor. Elas não dependem tanto de direcionamento atencional.

Essa habilidade pode estar relacionada ao fato de que seus mecanismos de atenção seletiva ainda estão em desenvolvimento. Isso torna sua aprendizagem menos restrita ao que lhes é explicitamente ensinado.

Além disso, no início do teste de reconhecimento, as crianças tinham uma memória melhor para os desenhos. Elas lembravam mais dos desenhos que supostamente deveriam ignorar do que os adultos.

Essa vantagem inicial desapareceu conforme o teste avançava, possivelmente devido à fadiga ou ao esquecimento rápido.

A armadilha de forçar foco total

Muitos pais e educadores pressionam as crianças para que fiquem quietas e prestem atenção. Mas a pesquisa sugere que essa cobrança excessiva pela atenção infantil pode ser contraproducente.

O aprendizado infantil ocorre de forma mais ampla e exploratória. Exigir que a criança fixe o olhar no quadro pode limitar sua absorção de conhecimento.

Em alguns casos, a dificuldade de concentração pode não ser um problema, mas um estilo cognitivo natural.

Essa nova perspectiva sobre atenção infantil levanta uma questão importante. E se, em vez de corrigir o comportamento das crianças, adaptássemos o ambiente para potencializar seu aprendizado?

Limitações do estudo

Os próprios autores do estudo apontam algumas limitações. Primeiro, os experimentos envolveram tarefas visuais específicas e podem não representar todos os tipos de aprendizado.

Além disso, a pesquisa foi realizada com um grupo restrito de crianças e adultos. É necessário replicar os achados em populações mais diversas.

As crianças mostraram melhor aprendizado inicial em contextos de distração. No entanto, esse efeito desapareceu na segunda metade do teste.

Os pesquisadores sugerem que fatores como fadiga, interferências e velocidade do esquecimento podem ter influenciado esse resultado.

Como estimular o aprendizado sem forçar a atenção

Em vez de obrigar a criança a manter o foco da forma tradicional, podemos canalizar sua curiosidade para melhorar a aprendizagem:

✔️ Criar ambientes de aprendizado ricos em estímulos, sem sobrecarga.
✔️ Incorporar elementos visuais, sonoros e táteis ao ensino.
✔️ Permitir pequenas pausas e momentos de movimento.

A ideia de que crianças precisam se concentrar como adultos pode estar ultrapassada. Para conhecer mais detalhes sobre essa pesquisa, leia o post divulgando o artigo original publicado na Psychology Today.

Referência

TANDOC, Marlie C.; NADENDLA, Bharat; PHAM, Theresa; FINN, Amy S. Directing attention shapes learning in adults but not children. Psychological Science, v. 35, n. 10, p. 1139-1154, 2024.