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Excesso de confiança nem sempre vem com competência, demonstra estudo

    O excesso de confiança é muitas vezes visto como um sinal de competência e liderança.

    Você já deve ter tido aquele chefinho que parecia saber de tudo e, no entanto, não resolvia nada. Talvez até causasse mais problemas no ambiente de .

    De fato, um estudo recente publicado na Personality and Individual Differences nos convida a repensar essa associação.

    A investigou se indivíduos com alta dominância social são realmente candidatos naturais a posições de liderança.

    O estudo questionou se eles realmente tomam decisões com maior precisão.

    Outra hipótese era que eles apenas demonstram mais confiança em suas escolhas. Mas sem eficácia.

    Excesso de confiança: um indivíduo bem vestido tentando equilibrar uma balança em que estão o excesso de confiança e a competência

    Contexto e Objetivos da Pesquisa

    A ideia central do estudo é explorar a relação entre traços de personalidade. O foco está na dominância social e na extroversão. Além disso, examina-se a confiança na tomada de decisões.

    A questão que os pesquisadores buscaram responder foi: indivíduos mais dominantes e extrovertidos realmente têm um desempenho superior? Ou sua confiança é apenas uma percepção sem base em uma maior acurácia?

    Os autores partiram da hipótese de que esse excesso de confiança todo não necessariamente se traduz em um desempenho superior.

    Eles perceberam que esses indivíduos se sentem mais seguros e demonstrativos ao tomar decisões. Porém, essa segurança não necessariamente se traduz em um desempenho superior.

    Assim, o estudo não apenas contribui para a compreensão dos processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão. Ele também tem implicações para contextos organizacionais e de liderança.

    Metodologia dos Estudos

    A pesquisa foi dividida em três estudos que utilizaram diferentes tarefas para avaliar o desempenho e os níveis de confiança dos participantes:

    Estudo 1: Tarefa de Aprendizado Estatístico

    No primeiro estudo, 143 estudantes universitários participaram de uma tarefa de decisão.

    Eles deveriam prever qual dentre dois pássaros apareceria a seguir.

    Após cada decisão, os participantes indicavam seu nível de confiança em uma escala de 1 a 10.

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    Além disso, foram aplicados dois instrumentos de medida de personalidade:

    • Dominância social: avaliada por meio da subescala do Personality Research Form (PRF-d).
    • Introversão/Extroversão: medida pela escala de introversão, sendo os itens revertidos para refletir a extroversão.

    Os participantes realizaram 480 ensaios. Eles foram divididos em blocos com condições estáveis e voláteis. A volatilidade não foi o foco principal da análise.

    Os pesquisadores constataram que indivíduos com maior dominância social apresentam níveis mais elevados de confiança.

    No entanto, essa autoconfiança não estava associada a um desempenho superior em termos de precisão. Também não estava ligada a tempo de resposta.

    Estudo 2: Tarefa de Memória Episódica

    O segundo estudo teve como objetivo investigar se a relação entre personalidade e confiança se estendia a outros domínios cognitivos.

    Para isso, 150 estudantes participaram de uma tarefa de episódica.

    Nesta tarefa, os participantes visualizaram 60 adjetivos. Eles avaliaram, em uma escala de 1 a 9, o quanto cada palavra os descrevia.

    Além disso, avaliaram adjetivos relacionados a um amigo próximo e a uma figura pública (o então Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson).

    Posteriormente, os participantes passaram por um teste surpresa de reconhecimento. Eles deveriam identificar se já haviam visto as palavras. Além disso, precisavam indicar seu nível de confiança na lembrança.

    Os resultados do Estudo 2 mostraram que, embora a correlação entre dominância social e extroversão tenha sido replicada, não houve associação significativa.

    Não existia uma relação entre esses traços e a confiança nas respostas de memória.

    Esse achado sugere que o efeito da personalidade sobre a confiança pode ser específico ao domínio da tomada de decisão. Mas não se estende para outras funções cognitivas, como a memória.

    Estudo 3: Replicação em Amostra Representativa

    O Estudo 1 contava predominantemente com uma amostra feminina de estudantes. O terceiro, então, estudo buscou replicar os resultados com uma amostra mais equilibrada em termos de .

    Ele também buscou maior representatividade etária.

    Neste estudo, 140 adultos (70 mulheres e 70 homens) recrutados pela plataforma Prolific completaram a mesma tarefa de aprendizado estatístico.

    Os resultados confirmaram a relação positiva entre dominância social e confiança na tomada de decisões.

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    Curiosamente, a extroversão se correlacionou com a dominância social. No entanto, em análises de regressão, apenas a dominância social se manteve como preditor significativo do viés metacognitivo.

    Essa descoberta reforça a ideia de que a autoconfiança, embora comum entre indivíduos dominantes, não se traduz necessariamente em melhor desempenho.

    Principais Resultados e Implicações

    Autoconfiança vs. Desempenho Real

    Os achados do estudo apontam para uma dissociação importante. Indivíduos socialmente dominantes demonstram excesso de confiança ao tomar decisões.

    Em alguns casos, extrovertidos agem da mesma forma. No entanto, essa confiança não se reflete em maior acurácia ou desempenho.

    É importante compreender essa discrepância. Certas características de personalidade podem influenciar como os outros percebem nossas capacidades.

    Em ambientes organizacionais, por exemplo, essa autoconfiança pode levar à ascensão de líderes.

    Embora inspiradores, eles não necessariamente possuem uma vantagem real em termos de competência decisória.

    Liderança e Percepção Social

    A confiança é frequentemente interpretada como um sinal de competência e potencial de liderança.

    Assim, a maior autoconfiança demonstrada por indivíduos dominantes pode funcionar como um atalho cognitivo. Isso permite que outras pessoas os percebam como mais capazes ou aptos a assumir papéis de liderança.

    Essa dinâmica é particularmente relevante em contextos de decisão rápida. Essas decisões são baseadas em julgamentos intuitivos. Exemplos incluem negociações, gestão de crises ou ambientes competitivos.

    Entretanto, a constatação de que essa confiança não resulta em melhor desempenho acurado nos coloca diante de um dilema. A segurança excessiva pode, em alguns casos, mascarar a necessidade de uma avaliação crítica. Uma revisão ponderada é necessária.

    Em situações em que a criatividade e o pensamento coletivo são essenciais, o excesso de confiança de líderes dominantes pode inibir a contribuição de ideias inovadoras.

    Ela também pode impedir o diálogo construtivo dentro das equipes.

    Especificidade do Domínio da Decisão

    Um aspecto relevante revelado pelo estudo é que o efeito da personalidade sobre a confiança parece ser específico. Ele se aplica principalmente ao domínio da tomada de decisão.

    Indivíduos dominantes demonstram excesso de confiança em tarefas que envolvem a previsão de eventos. Eles demonstram isso também no aprendizado estatístico.

    No entanto, essa tendência não foi observada em tarefas de memória episódica. Essa diferenciação reforça a ideia de que os processos metacognitivos podem variar de acordo com a natureza da tarefa.

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    Isso se refere à forma como avaliamos nossa própria performance.

    Reflexões para o Desenvolvimento Pessoal e Organizacional

    Você já se perguntou se a sua própria autoconfiança reflete necessariamente uma maior competência?

    Essa pesquisa nos convida a refletir sobre como avaliamos nossas decisões. Também destaca a importância de buscar um equilíbrio entre a confiança e uma avaliação realista de nossas habilidades.

    Em contextos profissionais, especialmente em equipes, a liderança deve ir além da mera percepção de excesso de confiança. Ela também deve ser baseada na capacidade efetiva de tomar decisões acertadas.

    Para os gestores e líderes, esses achados sugerem a necessidade de incentivar uma cultura de feedback e autocrítica. A autoconfiança deve ser acompanhada de uma análise crítica do desempenho.

    Além disso, ao selecionar líderes ou membros para funções decisórias, é importante considerar diversos aspectos.

    Não leve em conta somente os traços de personalidade que inspiram confiança. Também considere indicadores concretos de competência e resultados efetivos.

    Do ponto de vista do desenvolvimento pessoal, reconheça que a autoconfiança elevada pode não ser sinônimo de maior competência. Isso pode estimular a busca por aprimoramento contínuo.

    Também promove a valorização do aprendizado a partir dos erros. Isso permite um crescimento mais equilibrado e uma percepção mais realista de nossas capacidades, tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

    Considerações Finais

    O estudo demonstra que indivíduos com dominância social e extrovertidos tendem a exibir excesso de confiança na tomada de decisões.

    Porém, isso não se traduz em melhor desempenho.

    Essa dissociação entre confiança e acerto tem implicações significativas.

    Seja para a forma como percebemos líderes, seja como avaliamos a eficácia das decisões em ambientes de trabalho.

    Referência

    BELOTELOVA, A.; MARTIN, A. K. Confidence does not equal competence: Socially dominant individuals are more confident in their decisions without being more accurate. Personality and Individual Differences, v. 236, p. 113037, abr. 2025.


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