O “transtorno” do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é visto como uma condição desafiadora. O “transtorno” do espectro autista (TEA) também.
E se pensarmos que TDAH e autismo não são transtornos?
Essas condições, de fato, são consideradas cheias de desafios hoje em dia. Elas dificultam a adaptação ao mundo moderno. Ou, melhor, o mundo moderno dificulta a adaptação das pessoas que as recebem. Mas será que sempre foi assim?
Um estudo recente da psiquiatra infantil Annie Swanepoel, publicado na Clinical Neuropsychiatry (2024), sugere uma ideia intrigante.
Essas características podem, na verdade, ser vantagens evolutivas. Elas não seriam transtornos.
Este artigo explora essa visão e questiona: A dificuldade está nas pessoas neurodivergentes? Ou está no ambiente que as cerca?

Índice
TDAH e autismo: características ou transtornos?
Swanepoel argumenta que o TDAH e o TEA são variações naturais do cérebro humano.
Em determinados contextos, essas condições podem representar uma vantagem competitiva.
Segundo a pesquisadora, a sociedade moderna impõe padrões de comportamento rígidos.
Ao longo da história, essas características podem ter sido essenciais para a sobrevivência.
Algumas das habilidades frequentemente associadas a essas condições incluem:
- TDAH: impulsividade, energia elevada, criatividade e rápida adaptação.
- TEA: alta capacidade de concentração, pensamento lógico, memória superior e atenção a detalhes.
Para a autora, essas características não deveriam ser vistas apenas como déficits.
Elas devem ser entendidas como traços que, nas circunstâncias adequadas, poderiam trazer benefícios claros.
Isso, de fato, sugere que TDAH e autismo não são transtornos. E que dispensariam tratamentos que buscam adequar as pessoas ao comportamento neurotípico.
A perspectiva evolucionista: vantagem para a sobrevivência?
A pesquisa de Swanepoel propõe que, durante a maior parte da história humana, o ambiente exigia certas habilidades.
Atualmente, essas habilidades são vistas como “sintomas problemáticos”. Por exemplo:
- Pessoas com TDAH, por sua energia e impulsividade, poderiam ter sido excelentes caçadores e exploradores.
- Indivíduos com TEA são conhecidos por sua atenção a detalhes e pensamento analítico. Eles poderiam ter contribuído significativamente para o desenvolvimento de ferramentas. Eles também poderiam ter ajudado na criação de estratégias complexas.
Em sociedades antigas, esses traços ajudariam na sobrevivência e na organização dos grupos. Isso explicaria por que essas variações do neurodesenvolvimento ainda persistem na população.
O ambiente moderno, no entanto, é desafiador para muitas dessas pessoas.
A sociedade está adaptada à neurodiversidade?
O grande problema, segundo a autora, não está nas pessoas neurodivergentes, mas sim nas estruturas sociais.
A escola, o mercado de trabalho e os relacionamentos interpessoais são configurados para favorecer pessoas neurotípicas. Isso pode tornar a inclusão para aqueles que não se encaixam nesses padrões.
Isso levanta uma questão importante: o que precisa ser ajustado?
- Métodos de ensino mais flexíveis, que valorizem diferentes formas de aprendizado.
- Ambientes de trabalho que aproveitem as habilidades dos neurodivergentes, em vez de apenas exigir que se adaptem.
- Uma mudança de mentalidade, que passe a reconhecer esses traços como características naturais e não apenas como desafios.
TDAH e autismo não são transtornos?
Apesar do argumento de Swanepoel ser interessante, ele gera debate. Se considerarmos apenas os aspectos positivos dessas condições, podemos minimizar o sofrimento real. Muitas pessoas enfrentam dificuldades significativas no dia a dia.
Afinal, muitas pessoas diagnosticadas com TDAH e TEA lutam contra ansiedade, depressão, dificuldades de socialização e desafios acadêmicos e profissionais.
A neurodiversidade pode ser uma força, mas isso não significa que suporte clínico. Isso, no sentido de elas suportarem a vida num mundo feito para neurotípicos. Sem falar na necessidade tão negligenciada de adaptações ambientais.
Um novo olhar sobre o TDAH e o autismo
O estudo de Swanepoel sugere que precisamos reformular nossa visão sobre TDAH e TEA.
Em vez de apenas focar nos desafios, devemos também reconhecer os talentos e capacidades que essas pessoas trazem.
Isso implica repensar escolas, empresas e relações sociais para valorizar a diversidade de funcionamento do cérebro humano.
Mas e você, o que acha? A neurodiversidade deve ser vista como uma vantagem, uma condição que exige tratamento, ou ambas as coisas?
Talvez quem deva se tratar somos nós, neurotípicos, que temos dificuldade de aceitar e acomodar os que nos são diversos.
Referências
Swanepoel, A. (2024). ADHD and ASD are normal biological variations as part of human evolution and are not “disorders”. Clinical Neuropsychiatry, 21(6), 451-454.
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