Você abre o celular “só um minuto” e, de repente, uma hora passou.
Parece familiar? Essa dificuldade de concentração não é apenas preguiça ou falta de força de vontade.
Essas alterações têm acontecido desde que as telas invadiram nossos bolsos. Isso inclui a área somatossensorial, responsável por mapear o toque.
Entretanto, antes de culparmos a tecnologia em si, precisamos olhar para a forma como ela é usada. Afinal, será que os dispositivos seriam tão hipnotizantes sem mecanismos feitos para nos manter rolando o feed?
E você, em quais momentos sente que perdeu o fio da meada?

Índice
Do somatossensorial à timeline infinita
Sob a superfície, o tema é mais complexo do que “telas fazem mal”. Pesquisas mostram, por exemplo, que hipertexto e notificações dividem a atenção e reduzem a retenção de memória. Contudo, o cérebro é plástico; ele se reorganiza. Logo, o ponto crítico não é a exposição às telas, mas a forma algoritmicamente governada de consumir informação:
- Feeds infinitos substituíram páginas finitas.
- Notificações constantes interrompem tarefas antes que a mente mergulhe em profundidade.
- Alternância de contexto virou padrão.
Essa arquitetura incentiva um uso passivo e fragmentado. Isso dificulta os estados de fluxo. Esses são aqueles momentos em que o mundo desaparece e a concentração se avoluma.
Algoritmos: mais que distrações, engenheiros do comportamento
Celulares já existem há duas décadas. No entanto, as curvas descendentes em testes internacionais de leitura e matemática começaram por volta de 2015. Coincidência?
Talvez não. Nesse período, as principais plataformas adotaram algoritmos preditivos cada vez mais refinados.
Dificuldade de concentração, portanto, pode ser vista como sintoma de um design que monetiza cada segundo de atenção.
Ainda assim, culpar unicamente as empresas não resolve. Qual parcela de escolha temos ao aceitar as condições de uso que maximizam engajamento? Reconhecer a própria participação é passo necessário para recuperar autonomia.
O que a ciência já sabe — e o que ainda falta descobrir
Certamente, há lacunas. Estudos longitudinais sobre o impacto de algoritmos na cognição ainda engatinham. As plataformas mudam rápido demais para protocolos acadêmicos tradicionais. Contudo, indícios apontam que:
- Quanto mais passivo o consumo, maior o impacto em memória de trabalho.
- Alternância frequente de contexto eleva cortisol e dificulta consolidação de aprendizado.
- Interações que exigem criação (escrever, programar, desenhar) protegem parte das funções executivas.
Mesmo assim, pesquisadores alertam que, graças à plasticidade neural, o cérebro tende a “voltar para casa” se oferecermos ambiente propício. Eis uma boa notícia: não estamos condenados.
Conexão corpo-emoção: quando o scroll dói no pescoço
Há também manifestos corporais – ombros tensos, respiração curta, vista cansada.
Repare: depois de vinte minutos alternando entre vídeos, memes e e-mails, você sente o peito apertado?
Essa linguagem somática sinaliza que mente e corpo conversam. Dores e fadiga visual recordam que atenção dispersa cobra tributo físico.
Como cuidar da mente em tempos de algoritmos
Higiene digital em cinco passos
- Defina janelas de uso: escolha horários fixos para redes sociais, usando alarmes suaves como lembrete.
- Desligue notificações não essenciais; você decide quando checar novidades.
- Configure o feed: silencie perfis que disparam conteúdo irrelevante; assim, o algoritmo aprende.
- Pratique monotarefa durante blocos curtos (Pomodoro de 25 min). Depois, alongue braços e respire fundo.
- Reserve tempo offline para atividades sensoriais – jardinagem, culinária, caminhada – que ancoram a atenção no corpo.
Dificuldade de concentração ou algo mais?
Se, apesar dos ajustes, você percebe prejuízo significativo na vida pessoal ou profissional, vale buscar orientação psicológica. Não como receita pronta, mas como espaço seguro para explorar hábitos e emoções subjacentes. O que suas distrações podem estar tentando evitar?
Perguntas para você refletir agora
- Qual é o primeiro app que você abre ao acordar?
- Que emoções aparecem quando o feed fica sem novidades?
- Como seu corpo reage após longos períodos online?
Responder com honestidade já inicia a mudança.
Entre fatalismo e esperança
Em suma, dificuldade de concentração não precisa tornar-se diagnóstico permanente. Algoritmos são ferramentas; nós, pessoas, atribuímos sentido a elas. Portanto, reconhecer o problema, ajustar rotinas e cultivar presença continuam sob nosso alcance.
Como disse Hermes Trismegisto, “tudo tem seu ritmo”. Quem sabe seja hora de dançarmos em outro compasso, menos guiado por notificações e mais por escolhas conscientes?
Referência
BIANCHIN, Victor. As pessoas não conseguem mais se concentrar – especialistas dizem que o problema pode não ser os celulares, mas os algoritmos. Xataka Brasil, 22 abr. 2025.
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