O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é frequentemente descrito como um transtorno persistente ao longo da vida. No entanto, pesquisas recentes apontam que as características de TDAH podem flutuar ao longo do tempo.
Um estudo do ano passado revelou que pessoas com TDAH passam por períodos de remissão e recorrência. Mas essa aparente melhora pode estar ligada a um aumento da ansiedade (SIBLEY et al., 2024).
Isso levanta uma questão importante: será que a redução das características TDAH reflete uma real mudança no funcionamento cerebral?
Ou é um efeito do esforço intenso para se adaptar às demandas do mundo neurotípico?

Índice
Flutuação dos sintomas e compensação ansiosa
De acordo com o estudo MTA, 63,8% dos participantes apresentaram oscilações nas características de TDAH ao longo de 16 anos. Houve uma diferença de 6 a 7 sintomas entre os períodos de alta e baixa manifestação (SIBLEY et al., 2024).
Essa flutuação foi mais evidente na adolescência, fase de aumento das exigências acadêmicas e sociais.
Esse padrão sugere que muitas pessoas podem estar utilizando estratégias compensatórias para mascarar as características de TDAH. Isso pode levar a um aumento da ansiedade.
A ansiedade, nesse contexto, surge como um mecanismo de hiperadaptação. Indivíduos com TDAH frequentemente desenvolvem controle rígido do comportamento, hiperorganização e autocobrança excessiva para suprir as demandas externas.
O resultado? Aparentemente, menos características de TDAH — mas ao custo de um nível elevado de estresse e sobrecarga emocional.
O impacto da adaptação forçada no bem-estar
O estudo MTA identificou diferentes trajetórias do TDAH ao longo da vida:
- Flutuante (63,8%): Oscilações nas características ao longo dos anos, com períodos de mudança aparente.
- Persistente (10,8%): Manutenção das características, frequentemente associada a transtornos do humor e uso de substâncias.
- Recuperação (9,1%): Menos psicopatologias parentais e melhor adaptação ao longo do tempo.
- Remissão parcial (15,6%): Maior prevalência de ansiedade. Isso indica que a redução dos sintomas pode estar associada a um esforço consciente. Esse esforço é exaustivo para compensar dificuldades naturais do TDAH.
A presença de ansiedade mais elevada naqueles que demonstram remissão parcial reforça a hipótese. A adaptação a padrões neurotípicos pode ser desgastante.
Muitas dessas pessoas podem estar utilizando a ansiedade como recurso involuntário de vigilância constante.
Isso é feito para evitar distrações, impulsividade e esquecimentos. Esse comportamento cria um ciclo de sobrecarga mental.
A falsa impressão de melhora e os riscos da compensação
Às vezes, alguém com TDAH consegue manter uma rotina organizada, cumprir prazos e parecer menos distraído. Tudo de acordo com o que o sistema produtivo vigente espera das pessoas.
Isso pode ser visto como um sinal de “melhora”.
No entanto, essa mudança pode vir acompanhada de estresse elevado, perfeccionismo disfuncional e fadiga emocional. Isso é um alerta de que essa adaptação pode não ser sustentável.
A tentativa de se encaixar no modelo neurotípico pode gerar:
- Burnout mental: Exaustão devido ao esforço constante para manter a atenção e a organização.
- Perfeccionismo: Medo excessivo de errar, resultando em procrastinação e estresse.
- Autocrítica extrema: Sentimento constante de inadequação, mesmo quando há progresso aparente.
Conclusão: o que realmente está acontecendo?
O estudo nos ajuda a questionar a ideia de que a redução dos “sintomas” do TDAH representa necessariamente uma “melhora”.
Em muitos casos, pode se tratar de um ajuste desgastante às expectativas externas, o que acaba gerando maior ansiedade.
Portanto, ao avaliar o progresso de alguém com TDAH, é essencial observar não apenas a redução dos “sintomas”. É preciso verificar o impacto emocional desse processo.
Se a “melhora” vier acompanhada de um alto custo psicológico, talvez não seja algo genuíno. E sim um sinal de que a pessoa está se esforçando além do saudável para parecer neurotípica.
Talvez a solução seja admitir que algumas pessoas são diferentes e, inclusive, em circunstâncias corretas essas características diversas são vantajosas.
Referência
SIBLEY, Margaret H. et al. Characteristics and Predictors of Fluctuating Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in the Multimodal Treatment of ADHD (MTA) Study. The Journal of Clinical Psychiatry, v. 85, n. 4, p. 57313, 2024. DOI: 10.4088/JCP.24m15395.
Descubra mais sobre Psicólogo Online e Presencial em Curitiba
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.