Pular para o conteúdo

TDAH no TikTok: estudo aponta autodiagnósticos desinformados

    Em poucos segundos, um vídeo sobre TDAH no TikTok pode provocar empatia, alívio ou mesmo um certo incômodo.

    Especialmente quando se trata de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), esse impacto emocional pode influenciar decisões importantes.

    A busca por um ou o modo como a pessoa passa a se enxergar podem ser afetados.

    Mas até que ponto o que se diz sobre TDAH no TikTok corresponde ao que é cientificamente reconhecido?

    Um estudo recente publicado na revista PLOS ONE investigou exatamente isso.

    Leia: Evaluation of #ADHD-related TikTok content and its associations with perceptions of ADHD

    O artigo analisou a precisão das informações. Ele também avaliou o impacto subjetivo causado pelos conteúdos com a hashtag #ADHD na plataforma.

    Os resultados mostram um contraste marcante. Profissionais da saúde consideram certos conteúdos como psicoeducativos. Entretanto, eles não coincidem com o que jovens adultos identificam como relevantes ou “compartilháveis”.

    TDAH no TikTok: pessoas estão se autodiagnosticando em vídeos de pouco mais de 15 segundos

    O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que envolve de desatenção, impulsividade e hiperatividade. Apesar de ser frequentemente associado a crianças, afeta também adultos em diferentes contextos.

    Nos últimos anos, é comum ver influenciadores falando abertamente sobre sua relação com o transtorno. Eles frequentemente usam um tom humorado e informal.

    Esse tipo de abordagem gera reconhecimento e conexão. Afinal, quem nunca se distraiu com facilidade ou se sentiu inquieto demais?

    Leia mais!  Como lembrar dos sonhos em 5 passos simples

    O problema surge quando a fronteira entre traço e sintoma se desfaz. Isso favorece interpretações precipitadas. Em alguns casos, leva a autodiagnósticos equivocados.

    O estudo que analisou o TDAH no TikTok

    Como os vídeos foram avaliados

    Os pesquisadores selecionaram os 100 vídeos mais populares com a hashtag #ADHD.

    Psicólogos clínicos com experiência em TDAH analisaram cada vídeo.

    Eles avaliaram o grau de alinhamento com o DSM-5 (manual de critérios diagnósticos).

    Avaliaram também a clareza e o valor psicoeducativo.

    O que dizem os profissionais de saúde

    Menos da metade dos vídeos apresentava afirmações condizentes com o que a ciência reconhece como característico do TDAH.

    Muitos clips misturavam sintomas clínicos com traços comuns da vida cotidiana.

    Alguns exemplos são a dificuldade de organização ou a distração passageira.

    Não se contextualizava a gravidade ou a persistência necessárias para um diagnóstico.

    O que pensam os jovens que assistem aos vídeos

    Na segunda parte do estudo, 843 estudantes universitários participaram. Eles tinham ou não diagnóstico de TDAH.

    Os estudantes foram convidados a assistir a vídeos bem e mal avaliados pelos psicólogos.

    Curiosamente, os jovens demonstraram alta disposição para recomendar ambos os tipos de vídeos, mesmo os que apresentavam conteúdo questionável.

    Aqueles que assistiam com mais frequência a conteúdos sobre TDAH no TikTok tendiam a superestimar sua prevalência.

    Também superestimavam os desafios vividos por quem possui o transtorno. Isso indica que a exposição repetida pode alterar percepções subjetivas importantes.

    TDAH nas redes sociais: entre o acolhimento e o risco

    É inegável que muitos se sentem compreendidos ao assistir a esses vídeos. Existe ali um efeito de acolhimento e comunidade, que pode ser benéfico.

    No entanto, é preciso reconhecer que a mistura de informação com entretenimento pode gerar ruído. E ruído, em saúde mental, pode ter conseqüências sérias.

    Leia mais!  Excesso de confiança nem sempre vem com competência, demonstra estudo

    Afinal, como saber se o que você sente é um sintoma de TDAH? Ou é apenas um traço da sua forma de ser?

    Como evitar cair na armadilha de se enxergar apenas pela lente de um transtorno?

    Como diferenciar informação de desinformação

    Algumas perguntas podem ajudar:

    • O conteúdo cita fontes confiáveis, como manuais diagnósticos ou profissionais da saúde?
    • O vídeo distingue entre comum e critério clínico?
    • Existe algum incentivo para que a pessoa procure ajuda qualificada, se necessário?

    Informar-se é um direito. Mas talvez o maior desafio seja reconhecer que as respostas mais profundas não cabem em vídeos de 15 segundos.

    E você, o que pensa sobre o conteúdo que consome?

    Talvez valha a pena refletir: o que te levou a se identificar com aquele vídeo? Você sentiu alí um alívio, um susto, um convite para olhar para dentro? Pode ser um ponto de partida. Mas não necessariamente um ponto de chegada.

    Referência

    KARASAVVA, Vasileia; MILLER, Caroline; GROVES, Nicole; MONTIEL, Andrés; CANU, Will; MIKAMI, A. A double-edged hashtag: Evaluation of #ADHD-related TikTok content and its associations with perceptions of ADHD. PLOS ONE, v. 20, n. 3, 2025.


    Descubra mais sobre Psicólogo Online e Presencial em Curitiba

    Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *