A criatividade é frequentemente associada à inovação, ousadia e originalidade.
Nesse caso, quem é mais criativo? O homem ou a mulher?
Mas será que homens e mulheres expressam essa capacidade da mesma forma?
Durante séculos, a sociedade vinculou a criatividade a traços tradicionalmente masculinos, como independência e tomada de riscos.
Essa percepção influenciou não apenas o reconhecimento do talento criativo, mas também oportunidades acadêmicas e profissionais.
Índice

Um novo estudo desafia a pergunta sobre quem é mais criativo
No entanto, um estudo publicado no Journal of Applied Psychology questiona essa visão um tanto limitada (Kim et al., 2024).
- Os pesquisadores demonstram que homens e mulheres são criativos de maneiras diferentes.
- Os homens costumam se destacar por meio da disposição ao risco.
- As mulheres utilizam a empatia como um fator-chave para a inovação.
- Além disso, a criatividade impulsionada pela empatia pode ser ainda mais eficaz.
- Isso ocorre quando levamos em conta a utilidade das ideias, e não apenas sua originalidade.
Diante dessas descobertas, será que não está na hora de repensarmos nosso conceito de criatividade?
Como os estereótipos moldam nossa percepção sobre quem é mais criativo?
Neste artigo, exploramos como a cultura influencia o reconhecimento da criatividade.
Também abordamos por que certas formas de inovação são frequentemente invisibilizadas.
O mito da criatividade masculina
A criatividade é um dos traços mais valorizados em diversas áreas, da arte à tecnologia.
Entretanto, pesquisas apontam que a forma como reconhecemos a criatividade é influenciada por estereótipos e expectativas relacionadas ao gênero.
Porém, estudos indicam que homens e mulheres possuem capacidades criativas semelhantes.
Mas a sociedade tende a associar a criatividade a características como ousadia e tomada de riscos.
Criatividade como ousadia: uma construção cultural
A figura do “gênio criativo” na cultura ocidental sempre foi representada como um homem transgressor, rebelde e inovador.
Nomes como Leonardo da Vinci, Pablo Picasso e Steve Jobs são frequentemente celebrados como mentes brilhantes que revolucionaram suas áreas.
Essa narrativa ignora um fato importante. A sociedade favoreceu historicamente a expressão criativa masculina.
Além disso, a criatividade tradicionalmente foi definida com base na inovação radical. O pensamento disruptivo é uma característica que costuma ser associada a homens.
Em contraste, formas de criatividade mais colaborativas e empáticas são frequentemente expressas por mulheres.
O impacto da validação social
Outro fator que sustenta o mito da criatividade masculina é a forma como a criatividade é validada socialmente.
Mesmo quando homens e mulheres apresentam ideias igualmente criativas, os homens tendem a ser percebidos como mais inovadores.
Esse viés se manifesta no meio acadêmico, no mundo corporativo e até mesmo em premiações artísticas.
Enquanto a criatividade masculina frequentemente recebe o status de genialidade, a feminina costuma ser atribuída a habilidades “naturais” ou “intuitivas”.
Dessa forma, a crença de que os homens são mais criativos não se sustenta.
O que ocorre, na verdade, é um modelo cultural que privilegia determinadas expressões criativas em detrimento de outras. Mas será que a criatividade se resume apenas à inovação radical?
Empatia como motor da criatividade
A criatividade é frequentemente definida com ênfase na originalidade e na disrupção.
No entanto, essa visão ignora um aspecto fundamental da criatividade: sua utilidade.
- Segundo Kim et al. (2024), a criatividade não se limita à inovação
Mas também à capacidade de gerar soluções práticas e significativas para problemas do mundo real.
Por que a criatividade empática é subestimada?
O estudo sugere que a desvalorização da criatividade feminina está ligada à ênfase excessiva na originalidade como critério de avaliação.
Quando a criatividade é julgada apenas pela novidade, a tendência empática das mulheres pode ser subestimada.
Os pesquisadores também descobriram um fato interessante.
Se a utilidade das ideias é um critério explícito, as mulheres são percebidas como igualmente criativas. Elas podem até ser vistas como mais criativas do que os homens.
Isso reforça a necessidade de revisar nossos conceitos sobre criatividade e reconhecer diferentes formas de inovação.
A criatividade invisibilizada das mulheres
Mesmo que homens e mulheres tenham capacidades criativas semelhantes, a criatividade feminina continua sendo subestimada.
A sociedade valoriza mais a criatividade ligada à capacidade de assumir riscos. Isso é mais valorizado do que a solução de problemas do cotidiano, segundo o estudo.
Criatividade no ambiente de trabalho
No mundo corporativo, as mulheres frequentemente enfrentam barreiras para terem suas ideias reconhecidas na disputa de quem é mais criativo.
Kim et al (2024) mostra que, em reuniões, as ideias sugeridas por mulheres são mais aceitas quando repetidas por homens. Esse fenômeno é conhecido como efeito de eco masculino.
Isso demonstra que os critérios usados para avaliar a criatividade ainda são moldados por direcionamentos inconscientes. Esses direcionamentos reforçam estereótipos. E limitam o reconhecimento de diferentes formas de inovação.
Criatividade além do gênero: um novo paradigma
As descobertas do estudo indicam que precisamos repensar a criatividade de forma mais ampla. Criatividade não é apenas ruptura, mas também aperfeiçoamento, conexão e transformação sustentável.
Se quisermos promover um ambiente mais inovador, devemos adotar critérios que valorizem tanto a originalidade quanto a utilidade.
Equipes diversas — em termos de gênero, cultura e experiência — tendem a ser mais criativas, combinando abordagens e perspectivas.
Portanto, a pergunta que fica não é quem é mais criativo ou não. Mas como podemos garantir que todas as formas de criatividade sejam reconhecidas e valorizadas? Talvez a resposta esteja em criar espaços onde inovação e empatia andem lado a lado.
Referências
KIM, Joohyung; VAULONT, Marie; ZHANG, Zhen; BYRON, Kristin. Looking inside the black box of gender differences in creativity: A dual-process model and meta-analysis. Journal of Applied Psychology, v. 109, n. 12, p. 1861-1900, 2024. DOI: 10.1037/apl0001205.
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PROUDFOOT, D.; KAY, A.C.; KOVAL, C.Z. A Gender Bias in the Attribution of Creativity: Archival and Experimental Evidence for the Perceived Association Between Masculinity and Creative Thinking. Psychological Science, 2015.
STORAGE, D.; CHARLESWORTH, T.E.S.; BANAJI, M.R.; NOCK, M.K. Adults and Children Implicitly Associate Brilliance With Men More Than Women. Journal of Experimental Social Psychology, 2020.
LUO, Ning; GUAN, T.; WANG, J. Is Creativity Masculine? Visual Arts College Students’ Perceptions of the Gender Stereotyping of Creativity and Its Influence on Creative Self‐Efficacy. International Journal of Art & Design Education, 2023.
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