O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é assim denominado nos principais manuais diagnósticos, como o DSM-5 e a CID-11.
Porém, o termo “transtorno” carrega uma conotação médica que sugere uma condição patológica, algo que precisa ser tratado ou corrigido.
No entanto, o movimento da neurodiversidade questiona essa classificação.
O movimento argumenta que o autismo não deveria ser visto como uma falha ou disfunção. Pelo contrário, ele deve ser considerado como uma variação natural da cognição humana.

Índice
O argumento contra o uso do termo “transtorno”
Pesquisadores e ativistas da neurodiversidade defendem uma nova perspectiva sobre o autismo.
Eles acreditam que classificar o autismo como um transtorno contribui para o estigma.
Isso também leva à marginalização das pessoas autistas. Segundo Pellicano e Houting (2022), essa terminologia reforça a visão de que autistas precisam se adequar a um padrão neurotípico.
Em vez disso, devem ser compreendidos dentro de suas próprias formas de funcionamento.
Além disso, Swanepoel (2024) argumenta que traços autistas podem ter sido vantajosos na evolução humana.
Ele afirma que não há justificativa para tratá-los como patológicos.
Por que o termo “transtorno” ainda é usado apesar de errado?
Mesmo com essas críticas, há razões pragmáticas para a manutenção do termo “transtorno”.
Em muitos países, incluindo o Brasil, reconhece-se o autismo como uma condição médica.
Isso garante o acesso a direitos fundamentais, como atendimento especializado e adaptações educacionais.
No contexto jurídico e médico, a categorização como transtorno é essencial para assegurar que pessoas autistas tenham suporte adequado.
Isso significa que se busca uma mudança na forma como a sociedade enxerga o autismo.
Porém, é preciso garantir que isso não comprometa direitos conquistados.
Caminhos para uma abordagem mais inclusiva
Uma solução intermediária tem sido adotar termos como “condição do espectro autista”.
Esses termos já são utilizados em algumas legislações, como a do Chile.
Outra alternativa é o uso de terminologias que reconheçam a identidade autista.
Essas terminologias devem destacar as características sem a necessidade de um rótulo clínico depreciativo.
No campo da Psicologia, é fundamental que os profissionais analisem criticamente a linguagem que utilizam.
Eles devem considerar não apenas a precisão científica, mas também o impacto social de suas palavras.
Considerações finais
O debate sobre o uso do termo “transtorno” para o autismo está em andamento.
Ele reflete uma transformação na forma como compreendemos as diferenças cognitivas.
A categorização como transtorno pode garantir acesso a direitos e tratamentos.
Porém, essa terminologia também pode perpetuar estigmas. No futuro, novas classificações podem surgir.
Elas poderão conciliar o respeito à identidade autista com a necessidade de suporte e inclusão.
Enquanto isso, a discussão permanece aberta. Ela convida profissionais e pessoas autistas a refletirem.
A sociedade em geral também é convidada a pensar sobre a melhor forma de nomear e compreender essa diversidade.
Referências
- PELLICANO, Elizabeth; HOUTING, Jacquiline den. Annual Research Review: Shifting from “normal science” to neurodiversity in autism science. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 2022.
- SWANEPOEL, Annie. ADHD and ASD are normal biological variations as part of human evolution and are not “disorders”. Clinical Neuropsychiatry, 2024.
- LAMPERT-GRASSI, María Pilar. Personas del Espectro Autista – ¿Trastorno o Condición?. Biblioteca do Congresso Nacional do Chile, 2022.
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