Nos últimos anos, as plataformas de webcam erótica com a presença das camgirls cresceram, tornando-se um fenômeno da chamada “sextech”.
Mas o que motiva tantas pessoas a utilizá-las? E quais são os impactos psicológicos dessa experiência?
Um estudo recente foi publicado na Computers in Human Behavior. Ele analisou as percepções e emoções de mais de mil espectadores. O estudo revelou sentimentos contraditórios e tensões éticas em torno desse universo digital.
Índice

Benefícios e desafios do consumo de conteúdo erótico online
A pesquisa realizada por Xtine Milrod e Martin Monto coletou depoimentos espontâneos de espectadores da plataforma Chaturbate, identificando quatro grandes temas:
- experiências positivas para os espectadores
- experiências negativas para os espectadores
- percepções positivas sobre as camgirls
- percepções negativas sobre as camgirls
Entre os aspectos positivos, muitos usuários relataram que o ambiente proporcionava aprendizado sobre sexualidade. Eles estabeleceram conexões emocionais e até mesmo iniciaram relações amorosas nesses espaços virtuais.
Para pessoas com dificuldades sociais, físicas ou emocionais, as camgirls oferecem uma forma segura de vivenciar intimidade. Elas proporcionam isso sem o medo do julgamento.
No entanto, as experiências negativas também foram expressivas. Sentimentos de vício, culpa e vergonha surgiram em diversos relatos, além da preocupação com gastos excessivos e exploração financeira.
Para alguns, o consumo frequente de conteúdos eróticos interativos levou a uma dependência emocional. Essa dependência impactou a saúde mental. Também afetou a vida financeira.
Camgirls: autonomia ou exploração?
Outro ponto fundamental foi a visão dos espectadores sobre as camgirls.
Muitos reconhecem que a webcam pode ser uma alternativa mais segura ao trabalho sexual presencial.
Isso ocorre porque reduz riscos físicos. Além disso, possibilita maior autonomia financeira.
Por outro lado, surgiram preocupações éticas quanto à exploração por estúdios e plataformas.
Regiões como a Colômbia foram citadas por espectadores que suspeitam de condições abusivas de trabalho e retenção injusta de ganhos.
Além disso, a pressão emocional enfrentada pelas camgirls foi um tema recorrente. Isso foi especialmente verdadeiro para as mais jovens.
Esse tema levantou questionamentos sobre o impacto psicológico dessa forma de trabalho.
Metodologia e limitações do estudo
O estudo baseou-se em uma análise qualitativa das respostas abertas fornecidas por espectadores da plataforma Chaturbate.
A pesquisa convidou mais de 10 mil usuários a participarem de um questionário online. Destes, 1.225 indivíduos optaram por deixar comentários espontâneos sobre suas experiências e percepções relacionadas ao consumo de webcams eróticas.
Esses relatos foram posteriormente categorizados e analisados, revelando padrões de sentimentos e tensões morais vivenciadas pelos espectadores.
Apesar de fornecer insights valiosos sobre as experiências do público consumidor, o estudo apresenta algumas limitações.
Primeiramente, a amostra é predominantemente masculina e heterossexual. Isso pode restringir a generalização dos resultados para outras identidades de gênero e orientações sexuais.
Além disso, o recorte metodológico foca exclusivamente na perspectiva dos espectadores. Ele não inclui a visão das próprias camgirls. Elas são parte fundamental da dinâmica analisada.
Dessa forma, futuras pesquisas poderiam ampliar essa abordagem, investigando diretamente as experiências, motivações e desafios enfrentados pelas camgirls. Esse olhar possibilitaria uma compreensão mais equilibrada da complexa relação entre autonomia e exploração no ambiente do trabalho sexual digital.
Além disso, estudos longitudinais poderiam examinar os impactos psicológicos do consumo prolongado desse tipo de conteúdo. Isso seria relevante tanto para espectadores quanto para performers. Esses estudos ofereceriam uma visão mais ampla dos efeitos desse fenômeno na sexualidade contemporânea.
A digitalização da sexualidade e suas contradições
O estudo conclui que o consumo de conteúdos eróticos interativos pode ser uma experiência de liberdade. Também pode ser um aprendizado. Entretanto, pode ser um caminho para dependência emocional e financeira.
A interação entre espectadores e camgirls cria um espaço ambíguo onde intimidade e transação comercial se misturam, gerando sentimentos contraditórios.
Diante dessa complexidade, o que podemos aprender sobre o papel da tecnologia na sexualidade humana?
Será que a sociedade deveria discutir mais abertamente os impactos psicológicos desse tipo de interação?
Como garantir condições dignas para as camgirls e reduzir os riscos para os espectadores?
O estudo deixa claro que a questão não é apenas sobre desejo ou entretenimento.
É sobre relações de poder, vulnerabilidade emocional e a crescente digitalização da intimidade.
O debate continua aberto.
Referência
MILROD, Xtine; MONTO, Martin. The dialectics of sextech: A content analysis of the perception and emotion statements of erotic webcam viewers. Computers in Human Behavior, v. 165, p. 108574, 2025.
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