Nos primeiros anos de vida, as experiências emocionais são fundamentais e o estresse precoce pode ser determinante.
Eles desempenham um papel na construção da personalidade e no funcionamento do cérebro.
Três estudos recentes abordam essa temática a partir de perspectivas distintas, mas complementares:
- A abordagem reichiana do desenvolvimento emocional (Centro Reichiano)
- Uma pesquisa neurocientífica sobre o impacto do estresse precoce nas células de defesa do cérebro (Nature)
- Um estudo genético que relaciona complicações intrauterinas e vulnerabilidade à esquizofrenia (Nature)

Índice
O desenvolvimento emocional e a construção do caráter
De acordo com Volpi e Volpi (2006), o desenvolvimento emocional ocorre em etapas organizadas desde a concepção até a adolescência.
Essas fases são marcadas por interações entre fatores biológicos, emocionais e ambientais, que influenciam a formação do caráter. Caráter, no vocabulário reichiano, simplificando significa o “jeitão” da pessoa.
Segundo Wilhelm Reich, a energia vital circula pelo corpo e é diretamente afetada pelo ambiente. Quando falamos de “energia vital” é outra forma de dizer energia física.
Não tem nada de místico nisso, portanto. O diferencial é que energia vital é uma energia física manifestada biologicamente em forma de comportamento. É um conceito.
Durante a gestação e primeiros anos de vida, o contato afetivo com a mãe é essencial para um desenvolvimento saudável. O estudo enfatiza que traumas precoces, como abandono, estresse ou repressão emocional, podem gerar bloqueios dessa energia biológica.
E, mais tarde, esses bloqueios se manifestam na personalidade adulta. Se esses bloqueios forem intensos, podem resultar em dificuldades de relacionamento. Com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo.
Esse conceito de manifestação energética ganha corpo em estudos como os seguintes.
O impacto do estresse precoce no cérebro
A Psicologia Corporal destaca o impacto dos traumas emocionais na energia vital e no caráter.
Por sua vez, uma pesquisa recente publicada na Nature Communications Biology explora outro enfoque do estresse precoce no cérebro. Especificamente sobre as células de defesa do sistema nervoso, responsáveis por eliminar resíduos e regular inflamações cerebrais (Hikosaka et al., 2025).
O estudo investiga a ativação imunológica materna durante a gestação e o estresse social na puberdade. E como esses fatores podem levar a alterações no cerebelo.
Os resultados indicam que essas condições podem comprometer funções cognitivas. Também podem aumentar a incidência de esquizofrenia e autismo.
Além disso, a pesquisa aponta que a substituição das células pode reverter alguns danos, sugerindo caminhos para novas abordagens terapêuticas.
No entanto, sempre digo que nem sempre a correção do que a abordagem biomédica acha patológico é o mais indicado.
Os estressores que provocaram o assim chamado “transtorno” é que precisam ser modulados, tornando o ambiente adequado aos neurodivergentes. O balanço entre a visão biomédica e a visão social é fundamental.
Sinceramente, não faz sentido adaptar o sujeito às mesmas condições que causaram seus estresses em primeiro lugar. Isso basicamente é fixar o trauma e, até mesmo, normalizá-lo e agravá-lo.
Genética, ambiente intrauterino e risco para transtornos mentais
Complementando esses achados, o estudo de Ursini et al. (2018) publicado na Nature Medicine examina como fatores genéticos e complicações intrauterinas interagem para aumentar a vulnerabilidade à esquizofrenia.
A pesquisa demonstra que a placenta é um elemento-chave na mediação dos efeitos do estresse pré-natal. A placente é, assim, um ponto de convergência entre a genética e o ambiente.
Os autores identificaram que a ativação da placenta em resposta a estressores intrauterinos influencia a expressão genética ligada à esquizofrenia.
Além disso, foi observado que homens são mais vulneráveis a essas adversidades do que mulheres. Isso pode explicar parcialmente a maior incidência da condição no sexo masculino.
Isso sugere que o ambiente intrauterino modula o risco genético. Isso torna eventos como infecções maternas e hipóxia fatores críticos para o neurodesenvolvimento.
Acesse o estudo completo: Convergence of placenta biology and genetic risk for schizophrenia.
Convergências entre os estudos
Embora adotem metodologias diferentes, os três estudos ressaltam a importância do ambiente intrauterino. E também dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento emocional e cerebral.
As conclusões reichianas sobre bloqueios emocionais e a fixação de traumas encontram respaldo nas descobertas neurocientíficas.
As descobertas mostram como o estresse precoce afeta fisicamente o cérebro. Ele interage com fatores genéticos na predisposição ao futuro do bebê.
Isso levanta uma questão essencial: como proporcionar um ambiente saudável para o desenvolvimento infantil?
A resposta envolve não apenas evitar traumas evidentes. Envolve também oferecer suporte emocional, segurança e relações saudáveis desde a gestação.
Conclusão
O diálogo entre a Psicologia Corporal, a Neurociência e a Genética evidencia a complexidade do desenvolvimento humano.
Reich enfatiza o fluxo energético e os impactos emocionais. A neurociência e a genética demonstram como essas experiências moldam o funcionamento cerebral. Integrar essas perspectivas pode enriquecer nossa compreensão da mente humana. Desse modo podemos contribuir para abordagens mais eficazes no desenvolvimento humano.
Referências
HIKOSAKA, M. et al. Maternal immune activation followed by peripubertal stress combinedly produce reactive microglia and confine cerebellar cognition. Nature Communications Biology, 2025. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s42003-025-07566-2. Acesso em: 04 mar. 2025.
URSINI, G. et al. Convergence of placenta biology and genetic risk for schizophrenia. Nature Medicine, 2018. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41591-018-0021-y. Acesso em: 04 mar. 2025.
VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Etapas do desenvolvimento emocional. Curitiba: Centro Reichiano, 2006. Disponível em: http://centroreichiano.com.br/artigos/Artigos/VOLPI-Jose-Henrique-VOLPI-Sandra-Mara-Etapas-do-desenvolvimento-emocional.pdf. Acesso em: 04 mar. 2025.
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