Nos últimos anos, o conceito de relacionamento sugar tem ganhado atenção da mídia. Pesquisadores também estão interessados em entender melhor as nuances desse tipo de relação.
Em linhas gerais, um relacionamento sugar envolve uma troca acordada entre parceiros. Normalmente, um dos lados oferece benefícios materiais ou financeiros. Isso é feito em troca de companhia ou intimidade.
Recentemente, um estudo realizado pela socióloga Maren T. Scull foi publicado no periódico acadêmico The Journal of Sex Research. O estudo investigou como mulheres que vivenciaram relacionamentos sugar nos Estados Unidos definem o poder nessas relações.
Ele também analisou como negociam e percebem esse poder. Os resultados são esclarecedores e desmistificam algumas percepções simplistas sobre o tema.
Índice

O que é um relacionamento sugar?
Relacionamento sugar refere-se a acordos entre duas partes. Um parceiro, frequentemente chamado de sugar daddy ou sugar mommy, oferece benefícios materiais ou financeiros. Estes benefícios são em troca de intimidade, companhia ou atenção de outra pessoa.
Essa outra pessoa é geralmente mais jovem e chamada de sugar baby. Apesar da aparência de simplicidade, tais relações são complexas e envolvem dinâmicas sofisticadas de poder e negociação.
Poder e negociação nos relacionamentos sugar
No estudo de Maren Scull, as participantes descreveram três maneiras distintas de perceber e exercer poder em seus relacionamentos sugar:
- Poder sobre o outro: muitas mulheres relatam se sentirem empoderadas. Elas sentem isso pela capacidade de controlar os benefícios materiais recebidos. Além disso, controlam o tempo que dedicam ao parceiro. Entretanto, a dependência financeira pode inverter essa dinâmica, gerando vulnerabilidade.
- Poder de agir (autonomia): Sentir-se no controle das próprias decisões é importante. Isso é especialmente verdadeiro em questões relacionadas à intimidade e limites pessoais. Esse controle foi relatado como um fator importante para o bem-estar emocional.
- Poder como dominação: algumas participantes relataram situações negativas. Elas mencionaram coerção sexual, perseguição e assédio. Esses exemplos demonstram o lado obscuro das relações sugar.
Essas diferentes formas de poder coexistem. Elas mudam de acordo com o contexto e a percepção subjetiva das participantes. Isso mostra que não há uma classificação única ou rígida para essas relações.
Aparência e expectativas sociais
A aparência física apareceu como um elemento crucial no poder de negociação das mulheres em relacionamentos sugar. Mulheres jovens, brancas e consideradas fisicamente atraentes relataram vantagens claras na obtenção de benefícios materiais mais generosos.
Por outro lado, mulheres negras ou fora dos padrões estéticos dominantes enfrentaram dificuldades adicionais. Isso indica como preconceitos raciais e estéticos afetam significativamente essas dinâmicas.
Segurança e riscos nos relacionamentos sugar
Apesar de muitas participantes relatarem sentir controle e autonomia, algumas enfrentaram situações alarmantes, como violência física, perseguição e assédio sexual.
Scull constatou que 23% das entrevistadas relataram situações de assédio sexual. Além disso, 8% foram perseguidas (estalqueadas). Por fim, 4% sofreram violência física direta em algum momento de suas relações.
Esses dados enfatizam a importância de discutir abertamente estratégias de segurança para pessoas envolvidas em relacionamentos sugar. Isso inclui encontros iniciais em locais públicos.
Também é importante compartilhar informações de segurança com amigos ou familiares próximos.
Autonomia e vulnerabilidade: equilíbrio delicado
O estudo destaca uma contribuição importante. A autonomia e a vulnerabilidade coexistem nos relacionamentos sugar.
Essas características dependem fortemente das circunstâncias pessoais e financeiras de cada participante.
Mulheres financeiramente independentes têm maior controle sobre essas dinâmicas, enquanto aquelas com dificuldades econômicas estão em posição potencialmente vulnerável.
Essas constatações são valiosas para psicólogos e terapeutas. Eles trabalham com pessoas envolvidas nesses contextos. Isso ressalta a importância de uma abordagem acolhedora e não diretiva.
É essencial respeitar as experiências e percepções individuais.
Conclusão: um olhar acolhedor e informado
O estudo de Maren Scull sobre relacionamentos sugar oferece uma visão complexa e matizada dessas relações. Ele vai além das percepções simplistas e moralizantes frequentemente apresentadas na mídia.
É fundamental reconhecer a diversidade de experiências. Também é importante entender as nuances das negociações de poder e autonomia nessas relações para um debate saudável e informado.
Ao abordarmos o tema de maneira acolhedora e responsável, podemos ajudar a diminuir estigmas. Isso amplia o entendimento sobre as vivências subjetivas das pessoas envolvidas em relacionamentos sugar.
Devemos sempre respeitar sua autonomia. Também é importante promover reflexões sobre poder, vulnerabilidade e segurança emocional.
Referência
SCULL, Maren T. The sweet and the salty: women’s definitions and negotiations of power in sugar relationships. The Journal of Sex Research, [S.l.], p. 1-18, 24 fev. 2025.
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