Você já se perguntou o que significa amar um país? Será que esse sentimento sempre anda de mãos dadas com justiça e empatia? Ou será que, às vezes, ele mascara uma rigidez moral que silencia críticas e reforça obediência cega?
A pesquisa reuniu mais de dois mil participantes na Polônia. Ela dividiu o patriotismo em três formas distintas: glorificação, patriotismo convencional e patriotismo construtivo.
Índice

Três rostos do patriotismo
- Glorificação: representa um amor incondicional e idealizado pelo país. Frases como “É desleal criticar sua própria nação” exemplificam esse tipo. Essa postura frequentemente rejeita o questionamento. Ela prioriza a autoridade, a pureza simbólica e a lealdade. Isso acontece mesmo que seja às custas da justiça.
- Patriotismo convencional: expressa um vínculo afetivo com o país, sem necessariamente impedir críticas. Está mais ligado ao sentimento de pertencimento.
- Patriotismo construtivo: busca melhorar o país por meio da crítica e do engajamento. Aqui, o amor à pátria se expressa por meio da vontade de transformá-la.
Os autores analisaram como cada tipo se relaciona com os fundamentos morais. Esses fundamentos foram descritos por Jonathan Haidt e colaboradores.
Os fundamentos incluem valores individualizantes como justiça e prevenção de dano. Eles também abrangem valores vinculantes como lealdade, autoridade e pureza.
Quando o nacionalismo vira obstáculo moral
Os resultados mostram que a glorificação está fortemente associada a valores como autoridade e pureza. No entanto, ela se opõe à justiça e à prevenção de sofrimento.
Ou seja, pessoas que idealizam o país tendem a aceitar danos a indivíduos se isso preservar a “grandeza da nação”. Isso levanta uma pergunta inquietante: amar cegamente um país pode nos tornar menos sensíveis ao sofrimento humano?
Já o patriotismo convencional demonstrou um perfil mais ambíguo. Em certos dilemas, priorizou a autoridade sobre a empatia.
Em outras situações, preferiu o bem-estar individual à lealdade grupal. Isso sugere que, mesmo quando o nacionalismo não é cego, ele pode oscilar entre valores conflitantes.
Por fim, o patriotismo construtivo se destacou por sua ligação consistente com a justiça, mas não com os demais valores. Isso pode indicar que, ao criticar por amor, a pessoa busca corrigir injustiças sem se perder em lealdades que imobilizam.
O amor que não questiona vira prisão
Pensadores como Hannah Arendt e Albert Camus alertaram para os perigos de uma obediência acrítica às instituições. Eles também destacaram os riscos associados aos símbolos nacionais.
Quando se transforma em glorificação, existe um risco real de silenciar vozes dissidentes. Isso inclui aquelas que lutam pelos direitos humanos.
A Psicologia, nesse contexto, não deve tomar partido político. No entanto, pode — e deve — refletir sobre as consequências subjetivas e coletivas do amor à pátria.
Afinal, um patriotismo que nega a dor do outro não seria uma forma de violência simbólica?
Patriotismo como afeto maduro
Amar um país significa desejar seu crescimento. Nesse sentido, talvez o patriotismo mais saudável seja aquele que aceita o desconforto da crítica.
É possível cuidar de um lugar sem precisar idealizá-lo?
Pense em como isso se aplica às suas próprias relações. Você amaria alguém que não te permite falar, que exige lealdade cega e que ignora seus limites?
Por que, então, fazemos isso com países?
Para refletir
- Que tipo de patriotismo me representa?
- Já me senti pressionado a esconder críticas em nome de um suposto “amor à pátria”?
- Como meu afeto pelo país dialoga com meus valores morais?
Referência
KOŁECZEK, Maryna; SEKERDEJ, Maciej; RUPAR, Mirjana; JAMRÓZ-DOLIŃSKA, Katarzyna. Patriotic morality: links between conventional patriotism, glorification, constructive patriotism, and moral values and decisions. Self and Identity, 2025.
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