Um estudo recente revelou que certos traços de personalidade podem ter aumentado ou reduzido o risco de infecção por Covid.
Surpresa, surpresa.
- Pessoas com traços como psicopatia, narcisismo e desinibição aderiram menos às medidas de proteção.
Isso inclui o distanciamento social. Consequentemente, ficaram mais expostas ao vírus.
- Por outro lado, indivíduos com conscienciosidade, neuroticismo e introversão demonstraram maior preocupação com os cuidados preventivos.
Eles reduziram suas chances de contrair a doença.
Índice

Estudo revela que tipos de personalidade específicos prejudicaram combate à Covid
A pesquisa foi conduzida por Pourdehghan e colaboradores, “Are individual differences in personality associated with COVID-19 infection?”, e analisou como traços psicológicos influenciaram o comportamento de 740 pessoas durante a pandemia.
Os resultados indicam que a personalidade afeta a adoção de medidas de proteção em crises de saúde pública.
Essas informações podem ajudar governos, desde que não sejam necrogovernos, a adotar uma política de comunicação mais efetiva nesses momentos.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores analisaram 740 participantes iranianos, com idade média de 33 anos.
Os voluntários responderam a questionários para avaliar traços de personalidade e hábitos durante a pandemia.
Foram usadas escalas psicológicas já validadas, como:
- Big Five-10: que mede cinco grandes traços da personalidade. Isso inclui conscienciosidade, que é a capacidade de planejar e seguir regras. Também inclui neuroticismo, que é a propensão à preocupação e ao estresse.
- Short Dark Triad (SD3): que avalia traços sombrios. Esses traços incluem psicopatia. Em termos leigos, é uma falta agravada de empatia. Incluem também narcisismo. De maneira simples, é um excesso de auto valorização. Por fim, há maquiavelismo, que é a tendência a manipular os outros.
- Escala de Estresse, Ansiedade e Depressão (DASS-21): para medir o impacto psicológico da pandemia.
- Inventários de comportamento protetivo: que analisaram se as pessoas respeitaram medidas como distanciamento social e uso de máscara.
A partir desses dados, os cientistas usaram um método estatístico avançado chamado modelagem de equações estruturais. Esse método permitiu identificar relações entre personalidade, comportamento e infecção por Covid.
Quem se protegeu mais contra a Covid?
O estudo revelou que certos traços de personalidade estavam positivamente associados ao distanciamento social. Ou seja, as pessoas que os possuíam respeitaram mais as medidas preventivas. Entre esses traços estavam:
- Conscienciosidade: pessoas organizadas, que seguem regras e planejam suas ações foram mais cautelosas na pandemia.
- Neuroticismo: indivíduos mais ansiosos e preocupados evitaram mais os riscos, aderindo ao distanciamento social.
- Introversão: quem já preferia interações sociais reduzidas teve mais facilidade em manter o isolamento.
Na prática, esses traços reduziram as chances de infecção, já que o contato com o vírus foi minimizado.
Quem desrespeitou mais as medidas contra a Covid?
Por outro lado, algumas características da personalidade foram associadas a maior resistência ao distanciamento social. Consequentemente, há um maior risco de infecção.
Os traços mais problemáticos foram:
- Psicopatia: indivíduos com baixo nível de empatia e pouca preocupação com os outros foram menos propensos a seguir recomendações sanitárias.
- Narcisismo: quem tem uma visão inflada de si mesmo e acredita ser “imune” ou “especial” também foi menos cauteloso.
- Desinibição: pessoas impulsivas, que não costumam planejar suas ações, mostraram menos preocupação com medidas preventivas.
Podemos listar um ou dois governantes com essas características. Se sobreviveram à pandemia, no entanto, é uma incógnita. Mas o que dizer? Não sou coveiro, sou psicólogo.
O estudo demonstrou que esses comportamentos aumentaram o risco de contrair Covid.
Essas pessoas tiveram mais interações sociais. Elas não adotaram precauções básicas.
O distanciamento social fez diferença?
Sim, e muito. O estudo revelou que o distanciamento social foi um fator-chave na proteção contra a infecção.
A análise dos dados mostrou que o distanciamento mediou completamente a relação entre personalidade e infecção. Isso significa que os traços de personalidade não causaram diretamente a infecção. Porém, influenciaram os hábitos sociais das pessoas, que, por sua vez, determinaram o risco de contrair Covid.
Em termos estatísticos, o distanciamento social reduziu as infecções de forma significativa (β = −0.17, p < 0.001), segundo as referências do estudo.
Como esses resultados podem ajudar em pandemias futuras?
Os achados do estudo podem contribuir para a formulação de políticas de saúde pública mais eficazes em futuras pandemias.
Eles consideram as diferenças individuais na adesão às medidas de prevenção.
Aqui estão algumas estratégias que poderiam ser aplicadas com base nos resultados:
Campanhas de comunicação personalizadas
Em vez de campanhas de conscientização genéricas, os órgãos de saúde poderiam desenvolver mensagens adaptadas a diferentes perfis psicológicos:
- Para pessoas mais conscienciosas e introvertidas: Mensagens que reforcem o senso de responsabilidade individual e proteção pessoal.
- Para indivíduos com traços sombrios (narcisismo, psicopatia, maquiavelismo): Enfatizar o cumprimento das regras pode trazer benefícios pessoais. Isso pode incluir evitar restrições futuras ou preservar o status social.
Estratégias para aumentar a adesão de grupos resistentes
O estudo mostrou que pessoas com traços como psicopatia, antagonismo e desinibição foram menos propensas a respeitar o distanciamento social.
Para esse público, políticas mais persuasivas e práticas podem ser necessárias, como:
- Reforço social e normativo: Mostrar que a maioria das pessoas está aderindo às medidas pode ajudar a influenciar indivíduos resistentes.
- Consequências tangíveis: Explicar de forma objetiva os impactos negativos para a própria pessoa pode ser mais eficaz. Isso pode ser mais eficaz do que apelos emocionais.
Adoção de incentivos e medidas restritivas
Alguns perfis são menos propensos a seguir recomendações voluntárias. Portanto, políticas baseadas em incentivos e restrições claras podem ser mais eficazes. Isso inclui:
- Recompensas para quem adotar medidas preventivas. Isso inclui passaportes de vacinação ou acesso a eventos. Espaços públicos estarão disponíveis para quem seguir protocolos.
- Sanções para comportamentos de risco, como multas para quem descumprir regras de isolamento em períodos críticos.
Treinamento de profissionais da saúde para abordagem personalizada
Compreender como diferentes perfis psicológicos reagem às mensagens de saúde pode ajudar profissionais a adaptar sua comunicação.
Pessoas mais resistentes podem precisar de uma abordagem mais direta e lógica.
Outras podem se engajar melhor com apelos baseados na empatia e proteção comunitária.
Monitoramento comportamental e intervenções rápidas
O uso de ferramentas digitais e pesquisas populacionais pode ajudar a identificar grupos que não estão seguindo medidas preventivas.
Com isso, intervenções podem ser feitas rapidamente, como campanhas direcionadas ou ajustes nas recomendações de saúde.
As autoridades devem considerar as diferenças individuais de personalidade ao formular políticas.
Desta forma, elas podem criar estratégias mais eficazes. Essas estratégias incentivam comportamentos que reduzem a disseminação de doenças.
O estudo deixa claro que não basta apenas divulgar recomendações de saúde.
É necessário entender como diferentes grupos as interpretam e respondem a elas.
Essa abordagem pode lidar melhor com futuras pandemias e crises sanitárias para o sucesso de futuras medidas sanitárias.
Conclusão
A forma como cada pessoa lidou com a pandemia de Covid não foi apenas uma questão de acesso à informação. Também envolveu crença na ciência. Além disso, lidou-se com traços de personalidade.
Enquanto algumas características psicológicas ajudaram indivíduos a se protegerem, outras os levaram a ignorar medidas básicas de segurança.
Se conhecermos melhor nossos próprios traços de personalidade, estaremos mais preparados? Poderemos enfrentar melhor futuras crises de saúde?
Referência
POURDEHGHAN, Parandis; PINCUS, Aaron L.; MOHAMMADI, Mohammad Reza. “Are individual differences in personality associated with COVID-19 infection?”. Frontiers in Psychology, v. 16, 2025.
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