O jornalismo digital transformou a forma como consumimos informação.
Hoje, as manchetes de notícias são mais longas, negativas e sensacionalistas.
Esse fenômeno não ocorre por acaso. A economia da atenção e os algoritmos impulsionam estratégias como o clickbait.
Os títulos de notícias sempre tiveram o papel de atrair leitores. No entanto, a competição digital acirrou essa disputa.
Agora, portais utilizam métodos psicológicos para capturar cliques e engajamento.
Mas qual é o impacto disso na nossa percepção da realidade?
Índice

O que é clickbait e por que funciona?
O clickbait usa manchetes chamativas para despertar curiosidade. Muitas vezes, sugere uma informação surpreendente, sem revelá-la por completo.
O leitor sente a necessidade de clicar para preencher essa lacuna cognitiva. Esse fenômeno é conhecido como curiosity gap.
Outra estratégia comum é o uso de termos vagos e emocionais. Expressões como “você não vai acreditar” ou “essa descoberta vai mudar tudo” induzem o clique.
O impacto emocional gera maior engajamento e compartilhamento.
Metodologia da pesquisa
Eles analisaram cerca de 40 milhões de manchetes publicadas em veículos de comunicação online nas últimas duas décadas.
A pesquisa utilizou técnicas de Processamento de Linguagem Natural (PLN) para avaliar algumas características.
Elas incluem o comprimento das manchetes. Consideraram também o uso de negatividade.
Além disso, avaliaram a presença de pronomes e palavras interrogativas.
Os dados foram coletados de grandes portais. Alguns exemplos incluem The New York Times, The Guardian, The Times of India e ABC News Australia.
Além disso, o estudo comparou os resultados com um corpus de manchetes científicas da plataforma arXiv. Também comparou com manchetes de sites conhecidos por clickbait.
A análise estatística demonstrou um aumento consistente de características associadas ao clickbait. Observou-se maior negatividade e uso de estruturas linguísticas voltadas para a captação de cliques.
O papel dos algoritmos na seleção das notícias
Os algoritmos de engajamento privilegiam conteúdo que recebe mais interações.
Notícias negativas tendem a gerar mais cliques e compartilhamentos. Isso faz com que a negatividade nas manchetes aumente com o tempo.
A competição por atenção também levou ao uso de fake news e clickbait como ferramentas para atrair leitores.
Muitas pessoas nem sequer leem a matéria completa, formando opinião apenas pela manchete.
O impacto na psicologia do leitor
O excesso de manchetes sensacionalistas no jornalismo digital pode afetar a percepção da realidade. Esse efeito é conhecido como viés da negatividade. O leitor passa a acreditar que o mundo é mais caótico e perigoso do que realmente é.
Outro fator preocupante é a fadiga informacional. O volume de notícias apelativas e polarizadas causa exaustão mental. Muitas pessoas desenvolvem aversão ao noticiário ou passam a consumir apenas fontes que reforcem suas crenças.
Existe solução?
Uma alternativa é a adoção de métricas mais saudáveis para avaliar conteúdo. Alguns portais de jornalismo digital já investem em rankings de “notícias mais lidas profundamente”. Isso incentiva reportagens mais informativas, em vez de apenas virais.
Como leitores, podemos adotar estratégias para evitar sermos manipulados. Algumas delas incluem:
- Ler além das manchetes e buscar fontes confiáveis.
- Questionar o impacto emocional da notícia antes de compartilhá-la.
- Diversificar as fontes de informação para reduzir o viés de confirmação.
Considerações finais
O jornalismo digital não vai regredir ao modelo tradicional.
No entanto, compreender os mecanismos por trás das manchetes online é essencial para um consumo de notícias mais consciente.
O desafio é equilibrar engajamento com informação de qualidade, promovendo um ecossistema midiático mais saudável.
Referência
NICKL, Pietro; MOUSSAÏD, Mehdi; LORENZ-SPREEN, Philipp. The evolution of online news headlines. Humanities and Social Sciences Communications, v. 12, n. 364, 2025.
Descubra mais sobre Psicólogo Online e Presencial em Curitiba
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.