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Consentimento sexual nos aplicativos: o que deslizar para a direita realmente significa?

    Consentimento sexual: vivemos em um mundo onde os encontros amorosos e sexuais cabem na palma da mão. Entender como o consentimento funciona nos aplicativos de namoro se tornou essencial.

    Apesar da praticidade, o uso intenso dessas plataformas tem levantado uma série de dilemas emocionais. Também há dilemas sociais e éticos — especialmente quando o desejo de conexão se mistura com a lógica do consumo.

    Um artigo sobre aplicativos de relacionamento no Psychology Today explora essa questão com sensibilidade e profundidade.

    O autor descreve a sensação de sair de uma sessão de “swipes” com um mal-estar. É semelhante ao de passar tempo demais procurando o par de meias perfeito na Amazon.

    A conexão humana se esvazia e dá lugar a uma experiência quase mercantil.

    Consentimento sexual: mulher navegando em um aplicativo de relacionamento com um ar entediado, como quem escolhe um liquidificador no Mercado Livre

    Quando a busca por afeto se transforma em vitrine

    Aplicativos como Tinder, Bumble, Grindr e outros colocam a imagem como o ponto central da interação. Por isso, é comum que as pessoas escolham com muito cuidado as fotos que irão atrair mais atenção.

    Não há nada de errado em querer se mostrar atraente — afinal, quem não quer ser desejado?

    O problema começa quando essas imagens passam a ser interpretadas como sinais de disponibilidade sexual. Ainda pior, elas são vistas como uma espécie de consentimento sexual implícito.

    Essa dinâmica alimenta um processo sutil de objetificação, tanto de si quanto do outro. Nos transformamos em produtos com “características” visíveis na embalagem. Isso pode fazer com que as pessoas deixem de ser percebidas como sujeitos complexos. Elas passam a ser tratadas como alvos de desejo imediato.

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    Consentimento não é automático — nem digital

    A autora do artigo aponta um conceito crucial: o de “consentimento sexual digital”. Muitas pessoas interpretam ações como dar match, iniciar uma conversa ou colocar uma foto sensual no perfil. Elas agem como se isso indicasse automaticamente que a outra pessoa quer um encontro sexual. Essa interpretação é equivocada — e perigosa.

    Dar um like ou responder a uma mensagem não significa consentir com nada além daquele momento específico de interação.

    No entanto, a lógica acelerada dos aplicativos pode embotar essa percepção. Isso torna os limites mais nebulosos. Isso também dificulta que se compreenda quando, como e se o consentimento está de fato presente.

    O uso frequente dos apps pode afetar nossa sensibilidade

    Segundo o artigo, indicou que, ao passar mais tempo nesses aplicativos, uma pessoa tem tendência de sexualizar os outros.

    Além disso, essas pessoas relatam mais dificuldade de lidar com o consentimento sexual em situações presenciais.

    Ou seja, o modo como nos relacionamos digitalmente pode afetar diretamente a forma como lidamos com o corpo do outro. Ele pode influenciar também os limites e a escuta.

    Essa dificuldade de transitar do mundo digital para o contato real pode gerar conflitos ou frustrações. Às vezes, surgem situações em que o respeito ao outro é comprometido. Muitas vezes, isso ocorre sem intenção consciente.

    Como cuidar da própria presença e respeitar a do outro?

    Apesar desse cenário desafiador, é possível usar os aplicativos com mais consciência e afeto. A chave talvez esteja em um pequeno deslocamento: lembrar que há uma pessoa por trás daquela tela.

    Uma pessoa com medos, histórias, desejos e contradições — exatamente como você.

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    Aqui vão algumas ideias para tornar essa experiência mais saudável:

    • Mostre mais do que só a imagem: além de uma foto bonita, inclua hobbies. Adicione também gostos musicais, livros preferidos ou até uma frase que represente sua visão de mundo.
    • Converse sobre expectativas desde o início: ainda que pareça desconfortável, abra espaço para falar sobre desejos e limites. Isso pode evitar mal-entendidos. Também pode tornar a conexão mais real.
    • Observe o contexto: perfis que mostram amigos, instrumentos musicais, viagens ou momentos espontâneos revelam pistas valiosas sobre quem está ali.
    • Não presuma consentimento com base na aparência: uma roupa sensual, uma bio ousada ou um emoji não são consentimento sexual. Perguntar, escutar e respeitar continuam sendo os pilares de qualquer relação.
    • Dê tempo para o vínculo crescer. A dinâmica dos aplicativos pode ser rápida. No entanto, você pode escolher andar devagar. Vá conhecendo a pessoa no seu ritmo.

    Você é mais do que um perfil — e a outra pessoa também

    A comparação feita no artigo é bastante ilustrativa. Um anúncio de cerveja em uma praia paradisíaca não promete que você estará na mesma praia ao abrir a garrafa.

    Do mesmo modo, uma foto bem produzida em um perfil não representa tudo o que aquela pessoa é. Além disso, não revela tudo o que ela deseja compartilhar com você.

    Em vez de consumir pessoas como produtos, que tal aproximar-se delas como seres humanos? Elas, assim como você, estão tentando se encontrar em meio ao caos.

    O uso de aplicativos não precisa ser superficial. Eles podem, sim, ser um meio legítimo de conexão. Isso ocorre desde que sejam usados com presença e respeito.


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