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Coca-cola e cocaína: a curiosa ligação ainda existente entre essas duas substâncias

    Coca-cola e cocaína. Você sabia que a coca-cola, o refrigerante mais famoso do mundo, tem uma ligação histórica com a folha de coca? Essa relação ainda é ativa. Não, não há cocaína na bebida. Mas a cocaína ainda é um subproduto indireto da produção do refrigerante.

    As folhas de coca ainda são usadas e, bem, o capitalismo, do boi, aproveita até o berro. Então a cocaína proveniente da descocainização das folhas precisa ir para algum lugar, não é mesmo?

    A história por trás desse ingrediente é tão intrigante quanto um filme de suspense. Ela envolve monopólios, autorizações federais e até o uso médico de uma substância controversa.

    Vamos desvendar essa trama, passo a passo.

    coca-cola e cocaína

    A origem da coca-cola: um toque de cocaína no passado

    Em 1886, o farmacêutico John Pemberton criou a coca-cola em Atlanta. A fórmula original incluía extrato de folhas de coca. Este extrato continha pequenas quantidades de cocaína. Eram cerca de 9 miligramas por litro. Esta dose era tão baixa que não causava efeitos psicoativos significativos.

    Naquela época, a cocaína era legal e vista como um remédio milagroso. Médicos a prescreviam para tudo: de dores de dente a fadiga, depressão e até como afrodisíaco. A coca-cola, então, era vendida como uma bebida revigorante.

    Mas o cenário mudou. A preocupação pública sobre os riscos da cocaína cresceu. Por volta de 1903, a empresa reformulou sua receita. Ela eliminou completamente o alcaloide psicoativo. Mesmo assim, manteve o extrato de folha de coca. Agora, é sem cocaína. Esse extrato continua a ser parte do sabor único da bebida, conhecido como “Merchandise 7X“.

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    Stepan Company: o segredo que vem do Peru

    Aqui a história ganha ares de enredo internacional. A Stepan Company é uma empresa química sediada em Maywood, Nova Jersey. É a única nos Estados Unidos com autorização da DEA (Drug Enforcement Administration) para importar folhas de coca.

    Essas folhas chegam do Peru em grandes quantidades — cerca de 100 toneladas por ano, segundo estimativas. Nos laboratórios da Stepan, ocorre um processo químico. A cocaína é extraída para uso medicinal. O restante da folha — o extrato “descocainizado” — é fornecido com exclusividade para a The Coca-Cola Company.

    Esse extrato é o que continua dando à coca-cola parte de seu sabor característico. Ele não contém qualquer traço do alcaloide e não possui qualquer efeito psicoativo.

    O que acontece com a cocaína extraída?

    A cocaína retirada das folhas de coca não é descartada. Ela é vendida legalmente para a indústria farmacêutica. Empresas como a Mallinckrodt Pharmaceuticals compram essa substância. Mallinckrodt é uma das poucas nos com permissão para processar cocaína de grau medicinal.

    Apesar do estigma, a cocaína ainda tem uso médico em casos muito específicos. Em procedimentos otorrinolaringológicos, por exemplo, ela atua como anestésico local e vasoconstritor. Essa é uma combinação difícil de substituir. Ela é usada para reduzir sangramentos em cirurgias nasais e de garganta.

    Anestésicos sintéticos como a lidocaína são mais comuns hoje. No entanto, em contextos altamente especializados, a cocaína medicinal ainda é usada. Nestes casos, seu efeito simultâneo de anestesia e vasoconstrição é desejado.

    Enquanto a produção legal de cocaína nos EUA é minúscula e rigorosamente regulamentada, a produção ilegal movimenta cifras bilionárias. Segundo o World Drug Report 2022, da ONU, a produção global de cocaína ilícita chegou a aproximadamente 2.700 toneladas em 2022.

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    A quantidade processada legalmente pela Stepan Company representa menos de 0,1% desse total. Entretanto, isso revela um universo curioso onde coca-cola e cocaína ainda compartilham uma conexão oficial.

    Um sabor com raízes andinas

    Na próxima vez que você abrir uma latinha de coca-cola, pense nisso. Por trás do sabor doce e efervescente, existe uma cadeia complexa. Ela começa nas montanhas do Peru.

    Em seguida, passa por laboratórios químicos em Nova Jersey. Finalmente, chega às prateleiras do mundo todo. Tudo isso dentro da legalidade, com supervisão federal e uma história que atravessa mais de um século.

    Folha de coca é a mesma matéria-prima de coca-cola e cocaína. Essa conexão mostra como uma matéria-prima pode ter destinos completamente distintos. Ela pode ir do tráfico ilícito à legalizada e até ao refrigerante mais conhecido do planeta.

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