A depressão e tipos de personalidade podem influenciar, e muito, como cada pessoa percebe o problema. Mas será que essa relação é tão óbvia assim?
A depressão afeta mais de 280 milhões de pessoas em todo o mundo. Os dados são da Organização Mundial da Saúde. E eu duvido que cada uma delas viva essa condição igual a qualquer outra no mundo.
Para algumas, os sintomas são mais debilitantes; para outras, a adaptação e o enfrentamento podem ocorrer de forma diferente.
Um estudo recente, que encontrei no site da Association for Psychological Science, foi publicado na Clinical Psychological Science (Olino et al., 2024).
Esse estudo investigou como os traços de personalidade. E como eles podem influenciar a experiência da depressão.
Índice

O que a ciência diz sobre personalidade e depressão?
Pesquisadores exploraram a chamada teoria da patoplastia. Ela sugere que os traços de personalidade podem afetar a manifestação dos sintomas depressivos.
O estudo foi liderado pelo psicólogo Thomas Olino. Ele investigou se determinados traços de personalidade poderiam moldar a forma como a depressão se expressa em diferentes indivíduos.
Em pesquisas anteriores, evidências indicavam que a depressão poderia alterar a personalidade ao longo do tempo. E certos traços poderiam aumentar a propensão a sintomas específicos da depressão (Hakulinen, 2015) (Klein, 2011).
No entanto, entender como a personalidade pode modificar a expressão da depressão ainda é um desafio científico.
Como a pesquisa sobre depressão e tipos de personalidade foi conduzida?
Para superar as dificuldades metodológicas da área, Olino e sua equipe utilizaram uma técnica avançada.
Esta técnica é chamada de análise fatorial não linear moderada. Ela permitiu observar padrões em grupos amplos de pessoas.
Os dados analisados vieram de cinco amostras distintas. Os participantes eram de diferentes faixas etárias. Eles também eram de diversas regiões dos Estados Unidos.
Os pesquisadores usaram dois modelos de personalidade:
- Big Five, que avalia neuroticismo, extroversão, abertura à experiência, amabilidade e conscienciosidade.
- Big Three, que considera emocionalidade negativa, emocionalidade positiva e controle.
A hipótese central era a seguinte:
- Indivíduos com altos níveis de neuroticismo ou emocionalidade negativa apresentariam sintomas depressivos mais intensos.
- Enquanto isso, aqueles com altos índices de extroversão ou emocionalidade positiva poderiam experienciar sintomas menos graves.
Parece óbvio… poréeeeeeem…
… os resultados surpreenderam
O estudo encontrou relações entre traços de personalidade e sintomas depressivos em alguns dos grupos analisados, maaaaas…
- Os resultados gerais não sustentaram fortemente a teoria da patoplastia.
- Isso sugere que, apesar de existirem conexões entre depressão e tipos de personalidade, esses fatores podem ser mais complexos.
- Eles também podem ser mais dinâmicos do que se pensava inicialmente.
- Os autores sugerem que futuros estudos devem considerar outros modelos de personalidade.
- Eles também devem examinar fatores dinâmicos que possam influenciar os sintomas depressivos ao longo do tempo.
Essa abordagem poderia ajudar profissionais de saúde a desenvolver intervenções mais personalizadas para pessoas que vivem com depressão.
O que isso quer dizer na prática na relação entre depressão e tipos de personalidade
Talvez a experiência humana não possa ser resumida a caixinhas em que tentamos encaixar as pessoas.
Por mais que essas caixinhas ajudem, quando você está frente a frente com seu paciente a coisa muda de figura.
A experiência de cada um é única e só na relação terapêutica é que é possível identificar a sua singularidade.
Sempre fazendo a ressalva: é muita pretensão o terapeuta imaginar que compreende completamente o seu paciente.
Como isso pode impactar o cuidado com a depressão?
Entender que a personalidade pode influenciar a vivência da depressão nos lembra da importância de abordagens individualizadas no tratamento.
Se cada pessoa experiencia a depressão de maneira diferente, as estratégias terapêuticas precisam ser ajustadas.
Elas devem atender às necessidades específicas de cada indivíduo.
Isso também levanta uma reflexão importante. É possível que seu jeito de ser influencie não apenas os sintomas.
Seu jeito de ser pode também afetar as formas como você busca ajuda ou lida com o sofrimento emocional?
Referências
- HAKULINEN, C. et al. Personality and depressive symptoms: Individual participant meta-analysis of 10 cohort studies. Depression and Anxiety, v. 32, n. 7, p. 461-470, 2015.
- KLEIN, D. N.; KOTOV, R.; BUFFERD, S. J. Personality and depression: Explanatory models and review of the evidence. Annual Review of Clinical Psychology, v. 7, p. 269-295, 2011.
- OLINO, T. M. et al. Personality and presentation of depression symptoms: A preliminary examination of the pathoplasticity model. Clinical Psychological Science, v. 0, n. 0, 2024.
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