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Culpabilização da vítima: por que fazemos isso?

    O site Psychology Today publicou um texto sobre a tendência de culpabilização da vítima de abuso, de Terri Apter.

    Muitas pessoas, ao testemunharem um caso de e abuso, se concentram no que a vítima “fez de errado”.

    O que poderia ter sido evitado? Como ela deveria ter agido?

    Esse tipo de pensamento parece natural. No entanto, ele reforça a ideia equivocada de que a vítima é responsável pelo que sofreu.

    Culpabilização da vítima: todos os dedos apontando para quem sofre

    A tendência de buscar uma explicação

    Nosso cérebro busca padrões. Desde pequenos, aprendemos que nossas ações influenciam o mundo.

    Se evitamos o fogo, não nos queimamos.

    Se agimos de determinada forma, evitamos punições.

    Aplicamos esse mesmo raciocínio às relações humanas.

    Mas, no caso de um relacionamento abusivo, essa lógica não se sustenta.

    Abusadores são imprevisíveis. O que hoje é aceitável, amanhã pode gerar violência.

    A vítima, tentando se proteger, pode se submeter a exigências absurdas.

    Para quem vê de fora, isso pode parecer cumplicidade, quando na verdade é um mecanismo de sobrevivência.

    “Veja o que você me fez fazer”

    O artigo original destaca que muitos abusadores fazem uso de várias justificativas. Eles usam frases como “Você me provocou.” Outra justificativa é “Se não tivesse falado daquele jeito, isso não teria acontecido.”

    Essas frases não apenas transferem a culpa para a vítima, mas também confundem sua percepção da realidade. Esse processo é conhecido como gaslighting.

    O problema é que essa lógica muitas vezes é reforçada por terceiros. Profissionais da justiça, terapeutas e até amigos podem, sem querer, alimentar essa visão.

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    Proudman (2025) aponta que, em tribunais, abusos emocionais e coercitivos são tratados como “brigas normais de casal”.

    Katz (2022) critica práticas que exigem que vítimas de violência participem de terapia familiar com seus agressores. Isso só agrava o ciclo de manipulação.

    Por que focamos na vítima?

    Se sabemos que algumas pessoas são abusivas e não vão mudar, por que culpamos a vítima?

    O artigo de Apter (2012) sugere que a culpabilização da vítima acontece porque buscamos uma solução. Já que o abusador não se mostra disposto a mudar, nossa mente foca em quem parece mais flexível: a vítima.

    Isso gera frases como:

    • “Se ela tivesse saído antes, nada disso teria acontecido.”
    • “Por que ficou tanto tempo nessa relação?”
    • “Ela precisa aprender a se impor.”

    Essas afirmações ignoram que sair de uma relação abusiva é um processo difícil.

    Muitas vítimas enfrentam medo, dependência financeira e até ameaças diretas.

    Além disso, o vínculo emocional com o agressor pode ser forte, dificultando a separação.

    O que podemos fazer?

    Como evitar reforçar a culpabilização da vítima? Algumas atitudes ajudam:

    ✔ Em vez de perguntar “Por que ficou?”, pergunte “Por que o agressor fez isso?”.
    ✔ Valide a experiência da vítima. Não minimize sua dor.
    ✔ Lembre-se de que sair de uma relação abusiva envolve fatores emocionais e práticos.
    Profissionais devem se capacitar para reconhecer abuso psicológico e coerção.

    Foque no agressor

    Culpar a vítima pode parecer um reflexo natural da busca por explicações. É nesse momento que devemos parar e pensar antes de falar.

    Tais atitudes apenas reforçam o sofrimento de quem já está vulnerável, adicionando camadas e mais camadas de sofrimento.

    O foco deve estar no agressor e em como prevenir novos casos de violência e abuso.

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    Referências

    APTER, Terri. Difficult Mothers: Understanding and Overcoming their Power. New York: W.W. Norton, 2012.

    KATZ, Emma. Coercive Control in Children and Mother’s Lives. Oxford: Oxford University Press, 2022.

    PROUDMAN, Charlotte. He Said, She Said: Truth, Trauma and the Struggle for Justice in the Family Court. London: W&N, 2025.


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