O antissemitismo é um fenômeno complexo. Ele tem sido estudado em diversas perspectivas. Contudo, sua relação com traços de personalidade sombrios ainda é um campo em expansão.
O princípio do “veículo de ego sombrio” propõe que indivíduos com níveis narcisismo e psicopatia podem aderir a ideologias específicas.
Essa adesão visa satisfazer suas necessidades psicológicas, como agressividade, dominação e busca por status.
Um estudo recente de Alex Bertrams e Ann Krispenz foi publicado na Current Psychology. O estudo revelou ligações significativas entre esses traços e atitudes antissemitas.

Índice
O Princípio do Veículo de Ego Sombrio
O DEVP (Dark-Ego-Vehicle Principle ) sugere que certas ideologias e movimentos podem ser explorados por indivíduos com traços sombrios. Eles fazem isso para atender a suas necessidades psicológicas, como sentir superioridade moral.
Não só o antissemitismo, mas também causas legítimas, como o feminismo ou a defesa de causas ambientais.
Ou seja, a tríade sombria (narcisismo, psicopatia e maquiavelismo) pode usar coisas boas como plataforma, máscara e escudo moral.
Então, minha amiga, cuidado. Nem sempre pessoas que estão envolvidas em boas causas estão bem intencionadas, segundo essa teoria. Prometo, no futuro, trazer mais informações sobre o DEVP.
Essas pessoas podem usar essas crenças como justificativa moral para comportamentos agressivos.
Elas também podem ser manipulativas, promovendo discursos discriminatórios sob a aparência de justiça social ou luta política.
O estudo investigou especificamente a relação entre o antissemitismo e três traços sombrios principais:
- Narcisismo grandioso: caracterizado por uma autoimagem inflada e necessidade de admiração.
- Narcisismo antagonista: marcado por hostilidade, ressentimento e tendência a explorar os outros.
- Psicopatia: associada a impulsividade, falta de empatia e agressividade.
Metodologia
Os pesquisadores conduziram um estudo longitudinal pré-registrado com 3.981 participantes dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Os dados foram coletados por meio de questionários psicométricos validados. Esses questionários mediram os traços sombrios de personalidade e atitudes antissemitas.
Os participantes responderam a escalas que avaliavam diferentes formas de antissemitismo:
- Antissemitismo judeofóbico: baseado em estereótipos históricos negativos sobre judeus. Um exemplo é a crença de que eles exercem controle excessivo sobre a economia. Outro exemplo é a influência que se acredita que tenham sobre a mídia.
- Antissemitismo antissionista: direcionado ao Estado de Israel, frequentemente manifestado como oposição à sua existência ou comparação com regimes opressores.
Os traços sombrios foram correlacionados com os níveis de antissemitismo relatados pelos participantes. Isso permitiu a análise da validade do DEVP nesse contexto.
Principais Descobertas
Os resultados mostraram que a hipótese de falsificação do DEVP falhou, ou seja, a teoria não foi refutada pelos dados. Pelo contrário, a grande maioria das correlações entre os traços sombrios e o antissemitismo foi positiva e estatisticamente significativa.
Ou seja, diferentemente de outros movimento, no que tange o antissemitismo, a presença do narcisismo e da psicopatia foi particularmente marcante:
- Antagonismo narcisista e psicopatia tiveram as correlações mais fortes com o antissemitismo, tanto judeofóbico quanto antissionista.
- Narcisismo grandioso também esteve associado ao antissemitismo, mas de forma menos pronunciada.
- Indivíduos com altos níveis de traços sombrios eram mais propensos a expressar visões antissemitas radicais. Eles, incluindo apoio a atos de violência.
- A tendência à agressão, busca por domínio social e virtude sinalizada (demonstrar superioridade moral) também correlacionou-se com atitudes antissemitas.
Esses achados destacam que o antissemitismo pode ser um veículo. Indivíduos com traços sombrios o utilizam para expressar suas necessidades egoístas e agressivas.
Implicações Psicológicas e Sociais
Os resultados deste estudo são relevantes para entender as motivações psicológicas por trás do antissemitismo e de outros preconceitos. Algumas implicações incluem:
- Intervenções contra o antissemitismo devem considerar fatores psicológicos, não apenas políticos e sociais.
- Campanhas educativas podem focar na desmistificação dos ganhos individuais de adesão a ideologias discriminatórias. Elas podem enfatizar a construção de um senso de identidade não baseado na hostilidade.
- A relação entre ativismo e traços sombrios deve ser analisada de forma crítica. Isso é necessário para evitar que movimentos sociais sejam apropriados por indivíduos que buscam apenas satisfação pessoal.
Conclusão
O estudo de Bertrams e Krispenz apresenta evidências robustas. O antissemitismo pode servir como um veículo de satisfação para indivíduos com traços de personalidade sombrios.
Essas descobertas abrem novas possibilidades. Elas ajudam a compreender como ideologias discriminatórias são utilizadas para fins pessoais. Isso destaca a necessidade de abordagens psicológicas na prevenção do preconceito.
Referência
BERTRAMS, A.; KRISPENZ, A. Antisemitism as a Dark-Ego Vehicle. Current Psychology, 2025.
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