A atividade sexual da Geração Z tem diminuído em relação às gerações anteriores. O que pode estar causando essa mudança?
O psicanalista Christian Dunker, em vídeo recente, aponta razões culturais e psicológicas para esse fenômeno. Veja o vídeo no final do post.
Outros pesquisadores sugerem que fatores estruturais e tecnológicos também têm grande influência.
Apesar das abordagens diferentes, todas essas análises convergem para um ponto em comum: a sexualidade dos jovens está mudando profundamente.

Índice
Quem é a Geração Z?
A Geração Z inclui quem nasceu entre meados dos anos 1990 e início dos anos 2010.
Essa geração cresceu em um mundo digital. Redes sociais, internet e comunicação instantânea fazem parte do seu dia a dia.
Diferente das gerações anteriores, os jovens da Geração Z interagem e se relacionam de formas distintas.
Essas mudanças afetam seu comportamento afetivo-sexual.
A frequência sexual está caindo
Pesquisas mostram que a frequência de relações sexuais tem diminuído desde os anos 2000.
Se antes era comum ter duas ou três relações semanais, em 2017 a média caiu para 1,7 vezes por semana. E a tendência continua.
Um estudo publicado no Archives of Sexual Behavior (TWENGE; SHERMAN; WELLS, 2017) analisou dados de 26.620 adultos nos EUA entre 1989 e 2014.
A pesquisa concluiu que estadunidenses passaram a ter sexo cerca de nove vezes a menos por ano nos anos 2010. Isso aconteceu em comparação com os anos 1990.
Dois fatores principais explicam essa queda:
- O aumento no número de pessoas sem um parceiro fixo.
- A redução da frequência sexual entre casais estáveis.
Dunker sugere que a cultura digital fragmenta o desejo e dificulta a construção da alteridade.
Twenge et al. (2017) argumentam que a diminuição da frequência sexual se deve a mudanças estruturais. Por exemplo, a queda no número de casamentos e o aumento do tempo dedicado ao trabalho e ao entretenimento digital.
Apesar das abordagens distintas, ambas as perspectivas indicam que a sexualidade está sendo reformulada pelas novas condições de vida.
Cultura, desejo e autonomia: o sexo mudou
Nos anos 80 e 90, a sexualidade era amplamente explorada na cultura popular, especialmente na música e no cinema.
A partir dos anos 2000, esse cenário começou a mudar. A erotização foi gradualmente substituída por temas emocionais e familiares.
Dunker sugere que essa mudança reflete um novo controle sobre a sexualidade. Segundo ele, a erotização do outro está sendo substituída pelo isolamento digital e pelo narcisismo.
No entanto, pesquisas sugerem que essa transformação pode estar mais ligada a uma nova forma de agência sexual.
Effendi, Rohma e Prastiti (2024), por exemplo, mostram que a Geração Z está redefinindo a relação com a virgindade. Eles também estão redefinindo a autonomia sexual.
Muitos jovens agora veem a escolha de iniciar a vida sexual como uma decisão pessoal. Isso não é visto como uma imposição social.
Essa mudança pode levar a uma menor frequência sexual. Há um novo foco na qualidade das relações. O bem-estar emocional é priorizado.
Essa perspectiva parece oposta à de Dunker. No entanto, ambas apontam para um mesmo fenômeno. A sexualidade não é mais vivida da mesma forma pelas novas gerações.
Tecnologia e a dificuldade de conexão
O uso excessivo de tecnologia pode estar afetando os relacionamentos.
Pesquisadores como Kaviani e Nelson (2021) descobriram que a Geração Z enfrenta um paradoxo.
- Por um lado, há uma pressão social para performar sexualmente.
- Por outro, muitos jovens evitam a intimidade real por medo da exposição e do julgamento.
Os smartphones e as redes sociais oferecem acesso fácil à pornografia e aos aplicativos de encontros. Mas, ao invés de facilitarem conexões, muitas vezes geram insegurança e isolamento.
Dunker sugere que a cultura digital corrói o desejo. O estudo de Kaviani e Nelson (2021) mostra que a dificuldade de criar laços afetivos é central.
Além disso, a insegurança é um fator importante para entender a mudança na sexualidade da Geração Z.
Apesar de diferentes enfoques, todos esses estudos convergem para um ponto. As novas tecnologias estão reformulando a maneira como os jovens lidam com o sexo. Elas também influenciam a intimidade.
Um novo contrato sexual?
Dunker propõe que o sexo passou a ser visto como um “contrato de trabalho psíquico”.
A necessidade de atender expectativas e evitar frustrações pode torná-lo menos atrativo do que outras formas de lazer. Em um mundo onde o esforço emocional parece excessivo, atividades como redes sociais e jogos podem substituir a intimidade.
Twenge et al. (2017), por sua vez, sugerem que fatores estruturais são determinantes para a queda da frequência sexual. Mudanças nos relacionamentos e no estilo de vida são exemplos desses fatores.
Já o estudo de Effendi et al. (2024) destaca que a autonomia sexual da Geração Z reflete uma transformação cultural mais ampla.
Por fim, Kaviani e Nelson (2021) apontam que o medo da exposição impacta diretamente a vida sexual dos jovens. Além disso, a influência das redes sociais também tem um impacto direto.
Apesar das abordagens diferentes, esses estudos compartilham uma conclusão central: a forma como a sexualidade é vivida está mudando. A Geração Z não necessariamente está menos interessada em sexo, mas sim reformulando seus valores e prioridades.
O que podemos aprender com essas mudanças? Como equilibrar prazer, individualidade e conexão? A resposta pode estar menos no retorno a um modelo antigo e mais na compreensão das novas formas de desejo.
Referências
EFFENDI, Masitah; ROHMA, Nur Faizatur; PRASTITI, Jamalia Putri. Virginity as a Choice: Expression of Gen Z about Sexual Agency in a Complex World. RESIPROKAL: Jurnal Riset Sosiologi Progresif Aktual, v. 6, n. 1, p. 118-129, 2024.
KAVIANI, Christina; NELSON, Annabelle. Smartphones and the sexual behaviour of Generation Z college men in the USA. Sex Education: Sexuality, Society and Learning, v. 21, n. 3, p. 378-385, 2021.
TWENGE, Jean M.; SHERMAN, Ryne A.; WELLS, Brooke E. Declines in sexual frequency among American adults, 1989–2014. Archives of Sexual Behavior, v. 46, p. 2389–2401, 2017.
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