A ideia de fazer terapia com o ChatGPT pode parecer ficção científica.
Ele sugere, portanto, que essa possibilidade pode estar mais próxima da realidade do que imaginamos.
Para testar essa hipótese, pesquisadores da Brigham Young University conduziram um experimento inovador.
Nele, eles compararam respostas terapêuticas geradas pelo ChatGPT com as de terapeutas reais. Analisaram o nível de empatia. Verificaram também a eficácia de cada uma.

Além disso, os pesquisadores projetaram o estudo cuidadosamente. Eles o montaram como um teste de Turing emocional.
Nele, um painel de participantes tentou diferenciar as respostas humanas das respostas da inteligência artificial.
Terapia com IA surpreendeu os pesquisadores
Os resultados foram surpreendentes. Na maioria das vezes, os participantes não conseguiam distinguir qual resposta era humana.
Eles também não conseguiam identificar qual havia sido gerada pela IA.
Além disso, os participantes avaliaram as respostas do ChatGPT como mais alinhadas com princípios da psicoterapia.
Essas respostas superaram as dos próprios terapeutas em alinhamento com esses princípios.
Mas essa não é a primeira vez que um programa de computador consegue simular interações terapêuticas com sucesso.
- Veja também como a Inteligência Artificial mostrou que manja mais de personalidade que especialistas
O caso Eliza: a primeira experiência com terapia artificial
Muito antes do ChatGPT, já houve a primeira tentativa de criar uma inteligência artificial com fins terapêuticos.
Essa iniciativa surgiu em 1966. Joseph Weizenbaum, pesquisador do MIT, desenvolveu Eliza.
Este foi um dos primeiros programas de processamento de linguagem natural.
Diferentemente das tecnologias atuais, Eliza era um sistema bastante simples, mas inovador para a época.
Ele agia como um terapeuta. Reformulava as frases do usuário em perguntas genéricas. Isso criava a ilusão de compreensão e escuta ativa.
Por exemplo:
Usuário: “Estou me sentindo triste.”
Eliza: “Por que você está se sentindo triste?”
O curioso é que, apesar de sua simplicidade, muitas pessoas acreditavam que estavam sendo genuinamente compreendidas.
Em conclusão, isso surpreendeu até mesmo o próprio Weizenbaum.
Porém, ele se tornou um crítico do uso de IA para simular empatia. E, assim, ele alertou sobre os riscos de as pessoas confundirem respostas automatizadas com compreensão real.
De fato, o estudo atual na PLOS Mental Health cita Eliza. A história da computação a considera um marco inicial na relação entre inteligência artificial e terapia.
No entanto, destaca que a IA moderna é muito mais avançada.
Nesse sentido, ela é capaz de gerar respostas complexas e, além de tudo, até superar terapeutas humanos em alguns critérios.
O que o estudo descobriu sobre a terapia com ChatGPT?
Os pesquisadores recrutaram 830 participantes. Em seguida, eles avaliaram respostas terapêuticas a cenários sobre terapia de casal.
Estas situações hipotéticas foram escritas tanto por terapeutas humanos quanto pelo ChatGPT. Assim, o experimento testou três questões principais:
As pessoas conseguem diferenciar uma resposta terapêutica feita por um humano de uma feita por IA?
- Resultado: Na maioria das vezes, não. De fato, os participantes raramente conseguiam identificar corretamente qual resposta era humana e qual era gerada por IA.
As respostas da IA e dos terapeutas seguem princípios fundamentais da psicoterapia?
- Resultado: Sim, e a IA até superou os terapeutas em algumas avaliações. As respostas do ChatGPT foram classificadas como mais alinhadas com abordagens terapêuticas centrais.
Há diferenças linguísticas significativas entre as respostas humanas e as respostas da IA?
- Resultado: Sim, mas isso não impediu que as respostas da IA fossem melhor avaliadas. Análises linguísticas mostraram que a IA usava padrões diferentes de construção textual, o que pode ter contribuído para sua eficácia.
O estudo sugere que a inteligência artificial já é capaz de gerar respostas terapêuticas altamente sofisticadas. Isto é, essas respostas são a ponto de ser indistinguíveis de um terapeuta humano para um observador externo.
A IA pode realmente substituir terapeutas?
A pesquisa não sugere que o ChatGPT possa substituir psicoterapeutas, mas levanta questões importantes sobre o papel da IA na saúde mental:
- A IA pode ser uma ferramenta útil para complementar terapias, assim oferecendo suporte entre sessões.
- Ela pode ajudar a ampliar o acesso à psicoterapia, especialmente em locais onde há escassez de profissionais.
- No entanto, o contexto terapêutico envolve mais do que apenas boas respostas — envolve vínculo, intuição e experiência humana.
Os próprios autores do estudo destacam que a pesquisa não avaliou o impacto emocional real.
Eles ressaltam que não analisaram as respostas da IA em pacientes reais.
Ou seja, ainda não sabemos se uma IA pode construir o mesmo tipo de relação terapêutica que um ser humano. Seja a terapia presencial, seja a terapia online.
O que diferencia a terapia com ChatGPT de um terapeuta humano?
O que a terapia com ChatGPT tem que eu não tenho.
A IA nunca se cansa
Diferente de um terapeuta, a inteligência artificial não sofre de fadiga emocional, garantindo respostas consistentes.
A IA pode acessar uma quantidade massiva de informações rapidamente
Isso permite que ela adapte respostas a diferentes contextos terapêuticos com rapidez e precisão.
Mas eu tenho uma coisa que a terapia com ChatGPT não tem…
Falta o fator humano
É difícil distinguir as respostas da IA das de um terapeuta em um experimento isolado. Porém, a relação terapêutica é mais do que apenas o conteúdo verbal.
Relação genuína, intuição e vínculo humano são aspectos que a tecnologia ainda não consegue replicar completamente.
Conclusão: terapia com ChatGPT e terapia humana podem coexistir?
O estudo não indica que a IA substituirá os terapeutas humanos.
No entanto, sugere que ferramentas como o ChatGPT podem desempenhar um papel relevante. Este papel pode tornar-se cada vez mais importante no campo da saúde mental.
Ainda há desafios éticos e técnicos a serem superados. Isso inclui a necessidade de supervisão clínica e o risco de erros.
A importância da interação humana no processo terapêutico também é um componente do qual não podemos abrir mão.
De outro modo, daqui a pouco, estaremos todos sós e falando com Alexas, Siris e coisas assim.
No entanto, essas descobertas mostram que a inteligência artificial pode ser uma aliada poderosa para ampliar o alcance da psicoterapia.
Se a IA já é capaz de gerar respostas terapêuticas melhores do que muitos humanos, o que isso significa?
Finalmente, qual será o impacto no futuro da psicologia?
Será que, em breve, teremos assistentes terapêuticos virtuais integrados ao cotidiano das pessoas?
Referência
HATCH, S. Gabe et al. When ELIZA meets therapists: A Turing test for the heart and mind. PLOS Mental Health, v. 1, n. 1, 2025. DOI: 10.1371/journal.pmen.0000145.
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