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A repressão sexual e o avanço do autoritarismo moral no Brasil

    O Brasil tem testemunhado um aumento significativo da repressão sexual. Isso é acompanhado por um moralismo crescente em relação à .

    Há também a ascensão de segmentos evangélicos radicais e sua profunda relação com a política. A polarização social e o fortalecimento de líderes de extrema direita são de fenômeno que Wilhelm Reich já analisava.

    Ele discutia isso em The Mass Psychology of Fascism: a predisposição psicológica das massas para a submissão a ideologias autoritárias.

    Imagem que mistura elementos de repressão sexual, carnaval, religião e política

    A repressão sexual como ferramenta de controle

    argumentava que a repressão sexual desempenha um papel central na manutenção de sociedades autoritárias. Ele observou que sistemas que reprimem a liberdade sexual geram indivíduos emocionalmente contidos.

    Isso ocorre especialmente com as mulheres e os jovens. Essas pessoas se tornam inseguras e inclinadas à obediência.

    No Brasil, a crescente moralização do Carnaval é evidente. Subcelebridades e outros tipos de influencers, sistematicamente, condenaram os “pecados da carne”.

    Isso é um reflexo claro dessa dinâmica. Esse moralismo atua como um mecanismo de controle social. Ele reforça estruturas patriarcais e promove o medo do prazer. A liberdade corporal é vista como uma ameaça à ordem moral.

    Não é à toa que, não faz muito tempo, a homossexualidade era um diagnóstico no DSM. E, olha, se não cuidarmos isso volta. O CFP tem que olhar com carinho para aqueles que se declaram abertamente como “psicólogos cristãos”, por exemplo. Uma pessoa pode ser psicóloga e pode ser cristã.

    Faz parte da liberdade de religião. Mas, a partir do momento em que juntamos as duas palavras começamos a ter problemas. Inclusive, recentemente, estive em uma formatura de pessoas psicólogas em que houve uma “homenagem a Deus” totalmente inapropriada.

    Mas, num contexto desses, passa a não haver uma relativa ao corpo. Deveríamos usá-lo de uma forma inteligente e feliz.

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    Em vez disso, há uma repressão sexual e supressão do corpo, como se ele não existisse. Ou devesse não existir. Especialmente da cintura para baixo.

    A associação entre sexualidade e pecado sempre foi uma estratégia das instituições religiosas para consolidar seu poder, como aponta Reich.

    No entanto, a ascensão das igrejas neopentecostais intensificou esse processo. Isso o transformou em uma pauta política e cultural. Essa pauta não se restringe apenas ao campo religioso. Ela alcança o Estado e suas instituições.

    O crescimento do fundamentalismo evangélico e seu papel na política

    O fenômeno do crescimento evangélico no Brasil não é apenas uma questão religiosa.

    Trata-se de um movimento com implicações políticas profundas. Reich identificava na estrutura familiar autoritária a raiz da submissão das massas a líderes carismáticos.

    A igreja evangélica neopentecostal se constrói sobre uma hierarquia rígida. Pastores exercem controle total sobre a vida dos fiéis. Eles definem normas de , política e moralidade.

    Esse modelo se reflete na adesão fervorosa a líderes políticos. Esses líderes incorporam esses valores. Eles representam uma “restauração da ordem” frente a uma vista como corrompida. Frequentemente, se enrolam na bandeira nacional e promovem o “patriotismo” como a solução de tudo.

    Pátria, e moralismo (e propriedade) se abrigam sob esse manto. Isso agrega uma boiada pronta a seguir o comando do berrante.

    A relação entre esses grupos e a política tem sido cada vez mais explícita. Políticos ligados a essas igrejas não apenas defendem pautas conservadoras. A repressão sexual é o remédio amargo para voltarmos a um passado brilhante.

    Pra quem não tem , todo passado brilha.

    Eles articulam estratégias para consolidar seu poder. Esses políticos ocupam cargos estratégicos no governo. Além disso, influenciam políticas públicas.

    A recente onda de ataques à liberdade religiosa de religiões de matriz africana, por exemplo, reflete esse avanço autoritário. Nesse cenário autoritário, a diversidade religiosa é vista como inimiga de um suposto ideal cristão nacional.

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    Polarização e o culto à autoridade

    A polarização política no Brasil não pode ser compreendida apenas como um embate entre direita e esquerda.

    Reich sugeria que o fascismo não é apenas um fenômeno político-econômico. É um sintoma de uma sociedade estruturada sobre repressão e submissão.

    A adesão apaixonada a líderes de extrema direita. A demonização de opositores ocorre frequentemente.

    O apelo ao moralismo são sinais de uma sociedade onde a liberdade assusta. A autoridade oferece conforto.

    Nesses contexto, as pessoas entendem que é melhor que exista alguém que diga o que fazer com seus corpos. Em vez de ter de decidir por si mesmas. E ter de lidar, por exemplos, com desejos que não estão claros para elas e, portanto, que causam ansiedade.

    Não se engane. A ansiedade não passa. Mas, nesse caso, é usada como combustível para levar essa multidão de cá para lá. E apontá-la como arma a quem quer que seja considerado “o inimigo”. A sexualidade vira em vez de virar alegria e prazer.

    Por isso, o carnaval incomoda tanto.

    O nacionalismo religioso tem desempenhado um papel fundamental nesse processo. Muitos líderes evangélicos radicais promovem uma narrativa messiânica. Eles afirmam que o Brasil seria uma “nação escolhida por Deus”.

    Para eles, o Brasil necessita de um governo que combata inimigos internos.

    Esses inimigos podem ser progressistas, LGBTQIA+, feministas ou adeptos de religiões afro-brasileiras.

    Esse discurso mobiliza afetos profundos, reforçando o vínculo emocional entre fiéis e líderes políticos que se apresentam como “enviados divinos”.

    Enquanto isso, viramos uma nação profundamente preocupada com os orifícios corporais alheios.

    A ascensão de líderes autoritários

    A ascensão de líderes políticos de extrema direita no Brasil se alinha diretamente com os padrões descritos por Reich. Essas figuras não apenas mobilizam discursos nacionalistas e conservadores.

    Elas também fazem uso da frustração das massas para consolidar seu poder. O ressentimento diante das mudanças sociais alimenta esse tipo de liderança.

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    A nostalgia por uma ordem tradicional também contribui. Além disso, o medo de um colapso moral fortalece essa liderança.

    Além disso, o apelo ao militarismo e à punição são formas de reestabelecer a ordem. Elas são traços típicos de uma sociedade rigidamente estruturada por valores autoritários.

    A celebração de figuras que exalam força e intolerância não é um acaso. É um desdobramento lógico de um modelo social que valoriza obediência em detrimento da autonomia crítica.

    O desafio de romper o ciclo autoritário

    Reich sugeria que a única forma de romper esse ciclo de submissão e repressão era a emancipação emocional. Também era crucial a emancipação sexual das massas.

    O grande problema é que, quando falamos em emancipação sexual, a mente moralista pensa em outra coisa. Pensa em imensos bacanais em que ninguém é de ninguém. Tudo o que está nessas mentes moralistas em forma de desejos reprimidos.

    No Brasil atual, enfrentar isso significa desafiar o moralismo crescente. E também defender a pluralidade religiosa e combater o autoritarismo político e religioso.

    A transformação estrutural da sociedade envolve questionar a própria base de como a autoridade se constrói. Isso ocorre seja na família, na religião ou no Estado.

    A resistência a esses processos exige não apenas embates políticos e jurídicos. Também demanda uma reeducação emocional e social.

    É importante promover valores de liberdade, tolerância e autodeterminação.

    Enquanto a repressão e o medo forem as bases da estrutura social, o autoritarismo encontrará terreno fértil para crescer.

    Medo do próprio corpo. Do próprio corpo, minhas amigas. Algo que não nos abandona até que morramos. Do qual só podemos fugir na morte. Na morte do corpo. Ou nos delírios das mentes moralistas.


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